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Bichanando

Onde uma sempre jovem quarentona limpa o cotão que tem no cérebro!

Bichanando

Onde uma sempre jovem quarentona limpa o cotão que tem no cérebro!

Dizem-me que é do lítio...Como sou um bocadinho acelerada, falo muito rápido, quero fazer tudo ao mesmo tempo... Isto para contar outra história, de há uns anos, quando, pelo jornal A BOLA, passava semanas em Vale do Lobo a fazer a cobertura de um charmoso torneio de veteranos, com grandes nomes do ténis mundial que, já aposentados, ainda davam belas abadas aos rookies das raquetas. No luxo do complexo algarvio sucediam-se os cocktails, as conferências, brunchs e meetings onde sempre surgia o então administrador. Um holandês já entradote que engraçava comigo. Diziam elas. Quando era preciso fazer conversa de sala, lá ia eu. Entrevistas para o senhor ficar satisfeito, lá ia eu. Disseram-me uma vez que pessoas com excesso de lítio atraem as que dele já têm falta, como as pessoas de mais idade. Num desses cocktails, uma gigantesca garrafa de champanhe passou a manhã a luzir ao sol. De repente, a rolha do champanhe saltou, sozinha, a grande velocidade e acertou-me em cheio num olho. Soltei um valente berro e ficou tudo a olhar para mim (lá se foi a compostura e a classe). Seria também o meu lítio a atrair a cortiça?
Comecei a vê-lo à porta da escola das miúdas. Figura até um pouco austera a quem ninguém fica indiferente. Hoje orgulho-me de me dizer sua amiga. Faz hoje 40 anos (acontece aos melhores).
Fiquei aqui à rasca a pensar no que lhe deveria oferecer. Um fatinho ao CR7 dos alfaiates? Nah! Uma gravata cheia de pinta (como ele diz)? Nah! Umas peúgas? Tem as suas, com o próprio logotipo!!!
Um perfume? Há marcas atrás dele para lhe oferecerem adornos e acessórios. Acho que vou mas é fazer-me de esquecida. Até porque, ó Battistuta, tiras excecionalmente bem as medidas à homenzarrada mas a avaliar pessoas deixas muito a desejar. Atão não é que ele diz que eu falo muito? «Xiii, ó Zé, a gaja não se cala. Fala muito. É chata. Como é que aturas isto, mano?». Veja-se a calúnia. Despautério....
Já passei por situações caricatas, até porque tenho propensão para percalços e acidentes. Já apanhei vergonhaços e já dei os chamados 'vexames'. Como no dia em que tentei aprender a andar de bicicleta. Verdade: não sei andar de bicicletas de duas rodas. Nunca pude aprender em criança e, lá está, agora aos 40, parece-me humilhante ir para o Parque das Nações de rodinhas. Mas já experimentei uma vez, graças à tresloucada da Venusa Claro, das melhores instrutores de spinning do mundo, e, claro, da Filipa Reis. Lá me chatearam, lá fui para uma estrada com pouco movimento, de capacete na cabeça. Elas riam-se. Eu tremia. Nos escassos metros em que me equilibrei na bike, aconteceu de tudo: surgiu polícia a cavalo (quase assustava os bichinhos), fiz uma rotunda ao contrário mas, confrangedor, confrangedor  foi mesmo quando percebi que tentava cumprir o meu objetivo defronte a uma escola primária. Tocou para o intervalo: era ver os putos agarrados às grades a gozarem comigo.
Os 18 anos de jornal deram-me amigos, experiência, conhecimento e histórias. Há já muitos anos, noutra vida quase, fui fazer uma reportagem a Oliveira do Hospital. Porquê? Porque a equipa local  era composta por jogadores cujos nomes pareciam anedota: o Titico, o Tete, o Pipoca, o Pernoca, o Lili, o Fufu...e coisas que tais. Ao chegarmos a clubes de menor expressão, a receção é sempre enorme! Gostam de nos ter lá, facilitam-nos os acessos, chamam a presidente da Junta se preciso for. Chegada ao campo, falei com a maioria dos moços, fazendo depois reportagem, também, na terra. Um rapaz havia que me olhava fitamente. Pensava cá para mim: querem ver que me conhece e eu não estou a ver quem é (o que me acontece dia sim, dia sim). E o moço continuava de volta. Ai... querem ver que há taça? Até que o bendito lá se acercou de mim: «Desculpe é a Elsa Bicho? Olá, sou o Gaspar Camelo»! Irra!
És tão bruta! Que pena que não deixes que as pessoas te conheçam! Tens o coração ao pé da boca, explodes, dizes tudo como os doidos e lavas a alma. Gostava tanto de ser como tu em vez de não conseguir discutir. Enfim. Agora começa a cair a ficha de que não volto mais a trabalhar na Travessa da Queimada. Nem a ouvir os teus impropérios do outro lado do corredor. Ainda me apetece gritar: o que é? , para depois ouvir: estou a chamar Nelsinho, não Elsinha! (tempos houve em que deitava a cabeça na almofada e continuava a ouvir o Guerra).
Sempre me rio sozinha quando recordo o nosso episódio há mais de uma década. Quando ficavamos até altas horas da manhã no jornal porque o Guerra não nos mandava para casa (e se morre o Eusébio?, argumentava). Nessa madrugada saímos as duas furibundas. A meio da rua surgiu o galante velhote da Casa de Fados: as meninas precisam de companhia?, meteu-se. E tu, do alto da tua bravura, defendeste-nos com garra: «Levas com a lancheira nos cornos que te ...$%$&!»

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