Continuemos nos meus tempos de Suécia e naquela semana de boas-vindas aos estudantes Erasmus, sete dias que se revelaram para mim de enorme terror. Depois de ter falhado o passeio a cavalo pelos bosques frondosos, levaram-nos a visitar uma grutas que só no pico do Inverno se formam. Uma zona congelada de mar que desenha espirais lindas, colunas de água sólida, caprichos da natureza que só pensei ver em livros. Bem, não é que lhes tenha prestado muita atenção...
Já contei que tenho problemas com sitios fechados - como acham que me senti quando percebi que ia descer por uma corda, com apoio de bombeiros, por um buraco abaixo, entrar mar congelado dentro e passear-me por ali até terem vontade de me mandar embora? Irra! Mas já tinha ficado fechada no estábulo com medo do pónei e achei não podia fazer nova desfeita.
Cravejadinha de medo lá desci. Aquilo era lindo - parecíamos Alices no País das Maravilhas a entrar pelo espelho.
Pior é quando começo a olhar em volta e a não conseguir ver saídas. O pânico apodera-se de mim, começa a dar-me a travadinha e a tampa acabou por saltar-me quando, no meio daquele chão escorregadio, começo a ver pegadas. Perguntei o que era. O dito bombeiro - acho eu que era bombeiro, tinha farda, sei lá de onde era o homem - olhou para mim, com a testa muito franzida, e respondeu: «são pegadas de lince!»
Oabre...ainda hoje estou para perceber como saí dali. Agarrei-me à corda sozinha e nem precisei que me empurrassem o befe, que naquela altura até era bem mais generoso e proeminente, para chegar à superficie.Nesse dia apanhei -22 graus. Não sentia o nariz, nem queixo, nem boca...e o que fez a inteligente da Elsa quando chegou ao hotel? Meteu-se debaixo de água a ferver - doeu horrores!