Porra que é demais! Lembram-se de ter-vos contado que numa destas noites andei perdida, madrugada dentro, no meio do matagal e de, inclusive ter chorado por não descobrir o caminho para regressar a Lisboa? Pois, tive que lá voltar. A boa notícia é que, desta vez, não me perdi- também pirei-me cedo que aquele breu deu-me pesadelos. Outra boa notícia é que, sabendo ao que ia e o caminho que me esperava - cheio de buracos, uma desgraçada estrada de cabras da era medieval-, peguei no meu carrinho - que até tinha sido lavado e voltou a ficar todo c.....sujinho- e lá vim, devagarinho a fintar todas as crateras para não o espatifar mais, a abrandar muito, muito na aproximação das lombas, a parar, inclusive, antes de passar por cima de duras ramagens....Estava eu a portar-me tão bem quando - saltou-me qualquer coisa à frente. Eu acho que era uma lebre mas era tão gorda que nem quero aventar outra hipótese. Foi por um triz que não lhe dei uma panada. Não dei mesmo. Agora, que o bicho me assustou, irra! Oabre! Arranquei por ali fora, qual rali, voando sobre os buracos - badum , catrapum, que até o banco de trás se desarmanou como quando temos de fazer muita força para rebater os bancos, sabem? Bem, se aquele carro falasse...Só tinha destas para contar, ou pensam o quê? Tal não é a moenga...
Epá, perdoem-me o babanço mas tenho de contar-vos a história de amor da minha Caetana. Bem, neste caso - e graças a Deus ao contrário da mãe- é ela a recetora de intenso amor que não consegue corresponder. Trata-se do marau da escola - aquele puto desgadelhado que bate em todos, que chama nomes a toda a gente, que está sempre no gabinete da coordenadora, que avia de cebolada quem lhe aparece à frente. Imaginemos o nome fictício de Zé Pedro. Pois que o belo do Zé Pedro, apesar da sua rebeldia e mau comportamento, tem uma paixão assolapada pela minha Piqui. Até a mim já pediu autorização para a namorar. Ela foge dele como o diabo da cruz. «Dá-me beijos nas bochechas à força!», queixa-se. Ontem veio mostrar-me a linda carta de amor escrita pelo Dom Juan de oito anos: «Caetana, descolpa! Amute!» Lindo! Fiquei derretida. «Ó Caetana», disse-lhe eu. «Tão querido. Primeiro, tens de ensina-lo a escrever sem erros. Depois, posso guardar o bilhete? É que eu nunca recebi estas coisas. Talvez por ser o prototipo real do boneco da Michelin quando miúda, ou por ter óculos fundos de garrafa. Ou só por ser parva que nem uma chapa de zinco!» A minha brutinha de 30 kg rasgou logo a bela da declaração! Mas continuo na minha- coisa 'mai' linda! Tal não é a moenga... Como estará o pobre coraçãozinho do galanteador morenaço de menos de um metro mas de gigante atitude e bravura?
Engraçado como - talvez com a idade, não? - começamos a dar valor a tão pequenas coisas que agora nos deliciam sobremaneira. Ia eu a caminho de Beja quando desatei aos berros dentro do carro: «Para, para, para!» Qual a urgência? Uma banquinha à beira da estrada com um rapazito a vender poejos. Sabem o que são poejos, certo? Uma erva/tempero com um travo bem especial, entre o ligeiramente picante e um intenso sabor a... poejos! Não há como descrever. Sei que aquele sabor traz-me boas recordações - sobretudo associo-o a açordas! Ai uma açordinha de poejo - também já lá vão uns anitos desde a última vez que me forrou o estomâgo. Bem, corri desalmada direito aos poejos e até assustei o moço: «Quero poejos!» Um sorriso tão de orelha a orelha que o bom do alentejanito, que já deve estar farto de poejos como de contas para pagar, ficou a olhar para mim, pasmo. Lá me deu o raminho , cravou-me 3 euros (pagava 10) e lá fui toda contente para a Gertrudes: «Faz-me um caldo de poejos!» Amigas - é preciso tão pouco para sermos felizes. Deviam ver a cara dos putos a provar aquilo. E a opinião foi unânime: «Como a carne com batatas fritas!» Esta nova geração tem uma falta de sensibilidade... Tal não é a moenga...
Eu não sou de me queixar, como já deu para perceber (!), mas, a bem da verdade, reconheço que os meus fusíveis nunca funcionaram muito bem. Sentido de orientação é coisa da qual sou totalmente desprovida. Acreditam que toda a vida fui a Évora a casa dos meus tios e que ainda hoje não consigo lá ir dar sozinha? Pensam vocês: 'atão' mas agora com o GPS está resolvido. Pois que não. A tipa do GPS não vai à bola comigo. Ainda outro dia queria, tão só, ver o caminho mais rápido e fácil para a Almirante Reis e quando dei por mim estava quase a entrar nas portagens da A1. Na outra noite fui acompanhar umas cenas no meio da natureza profunda, num matagal lindo e denso, por estradas de cabras, sem qualquer sinalização. Saí de lá de madrugada! Escuro como o breu. Meus amigos, se não tivesse vergonha até confessava que até me caíram lágrimas de andar perdida e quase a ficar sem gasóleo. GPS? Uma boa porra! Sentido de orientação? Isso não se compra? Voltas e voltas, lá achei uma estrada principal. Há anos que não me deitava de madrugada. Não gostei. Não há nenhum robot, afinadinho dos parafusos, que eu use como co-piloto?
Tal não é a moenga...
Porra que é demais! Porque é que Deus Nosso Senhor não me fez mais aprumadinha? Porque tenho de me fazer notar pelas situações mais descabidas e insólitas... Ando cá numa empreitada de virar a minha vida profissional numa área que adoro mas que ainda me é muito desconhecida. Enfim, gravações, estúdios, cabos, silêncios.... logo aqui empano - eu, caladinha? Por Dios! Estava eu numa sessão à qual permitiram que assistisse quando puxo do telemóvel para registar o momento. Nunca tenho o flash ligado. Pois que naquela tarde, não faço ideia como, assim que toquei no aparelho para tirar foto, surge um clarão na sala que estragou tudo o que se estava a fazer. «Quem está aqui com flashes?» «Desculpem!» «Não voltas a fazer isso, ouviste?» «Tudo de novo - vamos repetir!» Naquele momento o meu 1,69m ficou resumido a uma formiga de tanta vergonha com a malta toda a olhar para mim com ar de quem estava a pensar: «Mas quem é esta croma que apareceu agora aqui?» Acho que não me vou safar... Vou mas é tentar a costura! Para alguma coisa devem servir os genes. Já que sou igual à Gertrudes pode ser que o aprumo também sem me depare aos 41 anos, não? Mas sei que será outra tentativa falhada - porque nasci para gozar dos rendimentos. Só tenho de os amealhar primeiro... Tal não é a moenga...