Lembram-se de ter desabafado com vocês e dizer-vos que, depois dos pássaros, gatos e galos, agora eram grilos com fartura debaixo da janela que não me deixavam dormir e que não deveria faltar mais nada para me azucrinar o descanso? Pois, aquilo que eu mais temia aconteceu.
Já vos contei, também, que tenho um medo estúpido de pássaros - aliás, tudo o que tenha bico e aquelas patas metem-me mais asco, pânico e impressão que um leão. Juro! Ora, com estes calores, a boa da Elsa Marina vá-de abrir janelas para a casa apanhar solinho.
Saí de manhã, cheguei ao fim do dia e estava a arrumar coisas na cozinha quando comecei a ouvir um bater de asas. Olhei pela janela - deve ser mais um cromo de um pombo a rasar o estendal da vizinha, pensei.
Assim que me viro - catano - lá estava ele! Um pardal ou um pintassilgo ou que raio era o bichesgo com umas cores maradas. Feio que doía. Cheio de penas e patas. Fiquei logo apavorada.
Pensei ligar ao Zé Luís mas ia gozar-me para todo o sempre (mais ainda). Engoli o medo, corri para a porta... e fechei-me na cozinha. O animal há-de acabar por ir-se embora, pensei. E assim fiz.
Ali fiquei a ver televisão na cozinha até serem horas de ir buscar a Caetana à escola. Com a graça de Deus o pássaro abalou. Voou. Morreu. Foi-se. Escafedeu-se.
Fechei as janelas, respirei fundo e ao ver-me no espelho do elevador reparei que ainda me deixou uma pena no casaco. Deixou foi ADN em todo o lado, o filho da mãe!
Tal não é a moenga...