Juro-vos que tenho os nervos (ainda mais) feitos em frangalhos. A quantidade de cabelos no chão com a malta toda em casa é de desesperar. A minha Caetana tem a mania que quer ser a Rapunzel morena - cortar o cabelo é assunto que lhe abre logo as comportas dos sacos lacrimais. Para mais com o chão branco...é o descalabro. Passo os dias nisto (cada um tem o que merece e estamos todos a pagar os nossos pecadinhos). Pessimista por natureza - sim, na história do copo meio vazio e meio cheio eu sou daquelas que parte logo o vasilhame, quanto mais ver perspetivas positivas - decidi, contudo, que tinha de tirar algum benefício deste meu agacha/levanta constante. Pelas redes sociais é ver os meus amigos (ai que saudades das vossas coças) a orientarem treinos em direto e todos, sem exceção, insistem nos agachamentos. Pois, saibam, queridos instrutores que a nova modalidade resultante desta $%$$#$%& quarentena é o 'hair catching'. A cada cabelo que vejo no chão faço um agachamento completo daqueles de bater com a bunda no chão (como diz a estúpida da música). Vão ver quando isto acabar - qual Kardashian qual quê! Braços? Flácidos. Músculo do adeus? Umas badanas do pior. Resistência - nenhuma, é só arfar da cozinha para a sala. Mas o befe? Rijo como os meus bifes de frigideira!
Tal não é a moenga!
Cuidem-se! Agachem!
Era grande galo ter cirrose sem beber pinga de álcool! Era grande galo ter icterícia com esta idade! Confesso que começo a ficar preocupada. Querem ver que ainda para aqui tenho problemas de fígado? Há uns tempos já que acuso falta de cor. E o que pensava ser maluquice minha, começa já a ser notado por amigos e outras pessoas que dantes de mim se acercavam. As palmas das minhas mãos parecem de cera. E nem pressionando consigo que o sangue me avermelhe a pele. Ai se a minha Gertrudes me visse! Ela que nunca teve problemas em dizer-me na fuça quando me achava «engelhocada», feia, gorda, magra...'whatever'. Parece que a oiço gritar-me: «há cadáveres com mais cor que tu!». Mas agora que já passaram uns dias e continuamos a olhar, e já a subir, paredes, desconfio que a minha ictericia, ou lá o que é esta moenga, vá agravar-se. Há umas noites, na ronha com a minha Caetana - a nossa nova modalidade preferida (remédio)- diz-me a gaiata: «mamã, tens as solas dos pés tão amarelas!» Uai - que isto está a espalhar-se galopantemente. É que nem os comprimidinhos de vitamina D, que tomo há meses por o meu corpo sempre ter dificuldade em absorve-la diretamente do sol, me safam desta. É daqui direta para Londres, para o Madame Tussaud. Ou será que o Governo poderá entender este meu problema como situação de emergência e reservar-me uma qualquer praia algarvia só para mim (uma qualquer que não sou esquisita nem ligo a luxos, só com o básico - massagens, um morenaço de olhos verdes a abanar-me e a servir-me pratos vegetarianos, muita beterraba e quiche de brócolos)?
Tal não é a moenga!
Cuidem-se!
Ora, cá está! Pois que a notícia acima não é grande novidade, certo? Acontece que, em tempos de isolamento, sem muito para fazer, com a malta entediada... Bem: das duas, três: ou fartamo-nos todos uns dos outros ao ponto de já nem conseguirmos ouvir as nossas vozes sem ficarmos com urticária (o que me rio com os memes e parvoíces, vídeos e cenas, que a malta inventa...é preciso ser-se muito inteligente para conseguir 'brincar' com situações de crise), ou a coisa corre bem e olhem - desata tudo a reforçar o sistema imunitário!
Neste caso, tenho cá para mim que em dezembro vão nascer muitos putos de nome Covid! Agora outra dúvida: é certo que os casais que estão em casa, que dividem paredes, manterão a sua vida íntima e aí, a história do metro de distância passa a ser tanga. Também já vi imagens nas redes sociais de um adaptado Kama Sutra em tempo de quarentena e distanciamento. Mas aquilo é para gente normal ou para contorcionistas? Por Dios! Ainda para mais, com o pessoal a reduzir a atividade e a forma física...ainda se aleijam!
Bem, melhor voltar a pensar no que fazer para o jantar....
Tal não é a moenga...
Cuidem-se!
Reforcem-se (do mal o menos)!
E o impensável aconteceu! Cristo! Por Dios! Estou a ficar tão enferrujada, tão enferrujada que já não consigo converter em palavras a velocidade do meu raciocínio. Não vos acontece? Quererem dizer qualquer coisa que já não sai? Ficarem a gaguejar quando apenas querem pedir uma faca, um guardanapo? Isto é gravíssimo! Não sei como vou sair disto... Cheché, certamente!
Lembrei-me logo de fazer trava línguas - aquelas cenas em que temos de dizer palavras difíceis rápido e seguidas, género: «num ninho de mafagafos há sete mafagafinhos, quando a mafagafa gafa, gafam os sete mafagafinhos....»
É que no último dia do meu curso de espanhol - sim, 'cariños', que estava a «tener classes de español», antes desta porra toda-, estive a fazer este tipo de exercícios na «lengua de nuestros hermanos». E eu era tão boa naquilo! Ria-me sozinha! Mesmo croma. Estão a imaginar-me, certo? Toda feliz, eufórica como só eu consigo ficar com parvoíces e trivialidades, de conseguir dizer aquilo tudo rápido, sem me enganar. Agora, nem consigo já dizer o meu nome todo sem trocar o Galamas por Galamba. Quero a minha vida de dondoca de volta! Queixava-me, queixava-me - era feliz e não sabia! Quantos de vocês já pensaram como eu: tanto que deixei de fazer, tanto que deixei de dizer? Agora cai a ficha! Saudades! De rir de vontade! De ser papagaia! De vos azucrinar o sentido com toda a minha alentejanice e inconveniencia!
Tal não é a moenga....
...A aranha arranha a rã. A rã arranha a aranha. Nem a aranha arranha a rã, nem a rã arranha a aranha...
Ora, expliquem-me lá de forma muito básica: vou ter de cozinhar durante dias e dias a fio? Não estava preparada para isto! Não bastava ficar fechada em casa, ser assaltada por doses galopantes de medo, receio, tédio e saudade, de sentir as juntas do corpo enferrujarem-se-me com falta de atividade e ainda tenho de encostar a barriga ao fogão? É que por Dios, sabem que não vai correr bem... E já começou. Obrigo-me a fazer e a comer sopa todos os dias para ver se a minha tufão de 9 anos não sai muito da linha. Nessa minha missão de grande mamã e boa doméstica....que raio faz ali aquele exaustor? Mandei uma fuerada no bico daquela tanga! Mesmo na fonte! Até dei passos atrás. Senti revolver-se-me o estômago. Fiquei branca (ainda mais - já notaram que estamos a ficar sem cor? Eu já de mim, nunca fui muito espintalgada...) Disse tanta asneira ... para dentro, obviamente (vá, é capaz de ter-me saído um imprompério ou outro...) E o olhar reprovador da Caetana, como quem estava a pensar: «rifo-a ou não?» Tal não é a moenga!