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Bichanando

Onde uma sempre jovem quarentona limpa o cotão que tem no cérebro!

Bichanando

Onde uma sempre jovem quarentona limpa o cotão que tem no cérebro!

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Lembram-se de ter-vos falado de um alentejanito bem típico que, durante a animação da Beja Romana, se colocava, no meio dos que rufavam tambores, como se ninguém desse pela sua presença no meio do espetáculo? Um velhote que até classifiquei de mal encarado, por ter o nariz a colar ao queixo de tão trombudo? Pois que parece que o belo personagem é figura bem conhecida por Beja. E surge sempre com a mesma farpela - o seu cajadinho, a sua samarra- que isto o frio não está para brincadeiras-, a sua boina que nunca lhe salta da cabeça. Pois que se chegasse à fala com o personagem teria de pedir-lhe desculpa - é que parece que o senhor é bem simpático com os que se metem com ele. Mania que as pessoas têm logo de julgar as outras - catano...
Pois esta figuraça faz-me lembrar o senhor do adeus que em Lisboa se colocava nos sinais de trânsito a acenar a quem passava. O seu falecimernto foi, inclusive, motivo de reportagens tal a notoriedade que ganhou, recordam-se?  Pois em Beja há agora este senhor samarra. Já pedi ao meu pai para pesquisar o nome da personagem- aliás foi o meu pai que me mandou a fotografia em cima (a quem sairei eu tão cusca, desenvolta, e metediça?)
Eu diria que o bom do patusco alentejano dá pelo nome de Asdrúbal, Godofredo, Bonifácio ou Amâncio.
Se se ficar pelo Manuel ou pelo típico Zéi fico desiludida.
Mas, brincadeiras à parte, terá família? Ninguém lhe pergunta se não derrete com calor debaixo daquela manta de pêlo às costas? 
Tal não é a moenga...

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Adoro! Fui passar o último fim de semana às Minas de São Domingos. À praia fluvial da Tapada Grande, um maravilhoso aproveitamento de um lindo paraíso no meio do Alentejo profundo.
Há mais de 30 anos que não ia lá. Contam-me os meus pais que, era eu moça pequena,  ia-me lá afogando depois de ter caído ao rio de um barco cheio de malta que tinha ido à pesca.
Agora imaginem - areia fininha, um barzinho show de bola com wi- fi, palhotas a fazerem-nos imaginar estar nas mais idílicas ilhas, e, o melhor de tudo - água quentinha! Para mim, aque até acho a do Algarve gelada, foi um consolo. Trinta e muitos graus a ajudar à festa e estava ali que nem uma paxá. Feliz da vida.
Foi quando, do outro lado do rio, começo a ver chegar malta - típicos alentejanitos em excursão, saindo dos autocarros de geleira na mão, daqueles que entram na água de calções pelo joelho e boné na cabeça.
E sotaque cerrado, saído bem lá dos bofes. Bem do interior da alma.
Felizes da vida, também, gritavam de um lado para o outro do rio, cumprimentando-se e brincando como se ninguém os estivesse a ouvir ou como se mais ninguém ali estivesse a desfrutar daqueles oásis na planície.
E a cena fez-me recordar outras passagens da minha infância - não do quase afogamento (por acaso recordo-me de estar debaixo de água e sentir ser puxada pelos cabelos), mas as muitas vezes em que vínhamos de férias de Monte Gordo (claro) e paravamos no meio da estrada para comer frango assado.
Recordo com carinho os piqueniques bem barrascos que eu amava e que enchiam a minha irmã de vergonha. Os carros passavam por nós e apitavam - o meu pai respondia - tcheeeee . Eu ria, a Gertrudes abanava a cabeça, a Isabelinha escondia-se.
Haverá melhor que comer um belo franguinho cheio de pó da estrada? 
Não conhecem as Minas de São Domingos? Não percam tempo.
E ainda dá para trabalhar os oblíquos de tanto rir. 

Tal não é a moenga...

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O meu pai é incomparável. É tão giro, tão giro!
No último fim de semana fui a casa, leia-se Beja, e sabe ainda melhor o cafezinho após a almoçarada de domingo na companhia do Bicho e da Gertrudes. Estava um calorzinho daqueles de fazer relembrar o Alentejo antigo mas, simultaneamente, soprava um ventinho que sabia tão bem...Ora o belo do Bicho, assim que se encosta, pesam-lhe as pálpebras. O homem consegue dormir onde quer que seja. E adormece numa fração de segundos. Desgraçado acorda logo com a Gertrudes aos berros: «Frasquinho, parece impossível! Onde quer que chega está sempre pendendo». E é verdade - não sei se ainda é na fase de adormecimento ou se já está na twilight zone, o meu Bicho parece um radar - consegue dar a volta à cabeça quando dorme sentado. Eu, nem nos alongamentos do ginásio consigo rodar assim o pescoço...
«Epá, está-se aqui bem», justificava-se. E acorda sempre bem disposto. Contou logo o Bicho:
«Sabes a do homezinho que chega aí a um lugarejo no Alentejo e pergunta a um velhote- amigo, já nasceu aqui algum grande homem? Não - aqui só nascem crianças!»
Ha, ha, ha, ha!
O que eu me tenho rido com esta parvoêra!
Tal não é a moenga...

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Adoro laranjas! Podia comê-las dias inteiros que era feliz. Mas há laranjas e laranjas.
Aquelas que trago de Beja  e que o meu pai compra no senhor Lourenço são incomparáveis. Nada têm a ver com as laranjas 'enceradas' que se compram nos supermercardos como diz a minha mãe. Vejam bem, trouxe 17 kg - mas elas são grandes. Quaisquer quatro já pesam quilo. Mas, depois de as olhar bem, levantou-se-me a dúvida: « ó pai - as cascas das laranjas vêm todas com uma nhanha branca. Que é aquilo?», perguntei eu ao meu Bicho pai. 
«Não sabes o que é isso?» - respondeu ele, com a sua característica mania de sempre nos responder com perguntas. «Isso são cagadelas de mocho!»
Uai. Está certo - sim senhora. Fiquei a pensar naquilo.
Ora, se o mocho é o símbolo da inteligência, pode ser que engolindo dejetos do passaresgo consiga herdar alguma sapiência. Será? É que sempre adorei o chamado carrascão da laranja.
Caetana ouviu a conversa. Olhou para mim como que a dizer -me: nem sonhes que vou comer laranjas.
E abalou a correr.
Tal não é a moenga...

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Fim de semana em Beja. Sim- cada vez que lá vou trago uma coleção de histórias e 'happenings'.
A Praça da República reviveu os tempos da Pax Julia, os tempos romanos e, à noite, enquanto se enchiam as tasquinhas - com pizzas e pães com chouriço (muito típicos da era romana - dah), um grupo rufava tambores, animando a malta. Todos fizeram um círculo à volta do grupo mas senhor houve - talvez mais duro de ouvido - que foi especar-se mesmo no meio.
Atentem na fotografia - um velhote, todo típico, de cajado e samarra - estavam 27 graus-, com cara de poucos amigos e boina na cabeça. E lá ficou ele, no meio da animação, sem se dar conta de ser o motivo de todas as conversas e risos. Mostrei a fotografia ao meu pai. «Epá, esse homenzito é muito conhecido. Está em todas. Aparece em todo o lado. Sabes onde é que costuma estar sempre? À porta do cemitério de São Matias!», contou-me.
Bem - nem quis saber mais. Fica no meu imaginário o patusco velhote sobre o qual não cheguei a perceber se tinha dentes. Semblante fechado, o queixo chegava-lhe ao nariz! Muito me ri!
Tal não é a moenga...

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