O meu Bicho faz 71 anos! Parabéns mê pai! Mê amori! O Bicho é o maior. Está sempre a chorar - de tanto rir! Ele manda os foguetes, apanha as canas...é festa em forma humana! Depois puxa do seu lencinho de pano, que está sempre no bolso direito das calças, e ali fica a rir sozinho, divertido com pouco. No último fim de semana estive com ele em Beja. Estava feliz, tinha trocado de carro (já não era sem tempo que o último tinha 26 anos e parecia um galinheiro: a porta do pendura não fechava e a bagageira só lá ia com um cordel...) A alegria do homem com o carro novo chegava a emocionar. Parecia uma criança no dia de Natal. «Pai que estás fazendo sempre ao pé do carro?» «Estou a guarda-lo. Nem quero que lá pousem moscas!» E ria-se. Como sempre! E ainda hoje continuo a aprender tanto com ele. Como bons alentejanos, além de saber rirmo-nos de nós próprios, gostamos sobremaneira de comentar a vida dos outros. E já nem sei cuja casaca cortavamos quando o belo do Bicho tem a seguinte tirada: «Está um bocadinho apozinhada!» «Está o quê?» «Apozinhada, anafada...gorda! Só não sei se se escreve com 'o' ou 'u'.» E foi risada geral. Seja como for, mê pai, mê amori, que tenhas um dia apozinhado de felicidade e saúde. Nunca me faltes que não aguento!
Tal não é a moenga
Leram o meu Bichanando de ontem - aquele em que contava que o meu pai Bicho queria abrir a porta do prédio por estar a ouvir uma campainha num vídeo do Facebook? São umas a seguir às outras.... Ainda nós estavamos a rir, à mesa do Natal, de imaginar a situação quando o belo do Bicho voltou a fazer das suas. Mê pai é padrinho da sua primeira sobrinha e quando telefona a Cahita...ai, ai. Pois que a minha prima Carla ligou para o telefone fixo da minha irmã, mas, com a risada e a estroinice, quando o meu pai chegou ao telefone já ela desligara. Ainda assim o meu pai pedia ajuda. «Não consigo atender isto...» «Carrega no verde!» Ouviu-se de novo o telefone. «Estou sim! Estou! Touuuuuu» O Bicho não desistia de ouvir a afilhada. Acontece que a minha prima voltara a ligar mas para o telemóvel e o bom do Bicho continuava agarrado ao telefone fixo, achando que era aquele que continuava a tocar. «Ó pai, é o telemóvel!» E depois para ele parar de rir? Chora, chora, fica com os óculos embaciados e tem de puxar do lencinho de pano do bolso das calças. É um prato!
Ai mê pai - que barrigada de rir no Natal. O Francisco Bicho, já de si e da sua natureza, é um prato! Qualquer história lhe lembra uma anedota, qualquer tema o recorda de uma piada, todos os assuntos o conduzem a uma música. Mas agora, com a idade, está cada vez mais engraçado (leia-se pior). O que nos rimos com a Gertrudes a contar o episódio. Pois que o Bicho tem uma loja de loiças e utilidades em Beja e, há anos, teve a bela ideia de colocar no estabelecimento uma daquelas campainhas de sensores para saber quando alguém entra ou sai. Aquelas campainhas muito irritantes, que fazem grande chinfrineira. Pois que ultimamente o Bicho tem um grande novo amigo - o Facebook-, e decidiu fazer um filme da loja para melhor mostrar os artigos em exposição e venda. Estava ele a olhar o vídeo e a mostra-lo à minha mãe quando começou a descer as escadas do prédio. «Frasquinho, que vais fazer?» «Vou abrir a porta! Estão tocando!» «Estão tocando o quê, homem, não vês que é a campainha da loja que se ouve aí do vídeo?» Já choravamos só de imaginar o Bicho, com o telemóvel na mão, a ver o vídeo, a ouvir a campainha e, mesmo assim, a descer as escadas do prédio que «estavam a bater à porta lá em baixo...» Abençoado seja!
Ora vamos lá a ver se a gente se entende! Querem ver, Cristiano Ronaldo, que ainda tenho de te processar também? Não pelo mesmo motivo que todas as outras... (sniff), mas isto agora do Bicho já passa das marcas. Arranja um apelido só para ti, amigo! Brinco! Sempre gostei muito de ser Bicho e entendo na palavra um lado bem positivo. Aliás, o epíteto agora a rodar pela imprensa mundial é para te elogiar, certo? Contigo não me importo de partilhar o Bicho! Assenta-te muito bem! Aliás, se quiseres conversar um bocadinho, beber um café....uai, que é sempre assim que começa... Mas comigo estás descansado - de ti só queria mesmo o privilégio da companhia de um colosso do futebol como tu e um autógrafo (e foto, vá) para o filho do Zé Luís. Que eu não sou como os outros de me aproveitar de quem tem muito - mas se quisesses fazer uma doação para o Centro Cultural e Desportivo dos Moinhos da Funcheira cujo teto precisa ser isolado e já nos chove em cima durante a Zumba.... És Bicho, sim senhora! Bem-vindo à família! (Traz o Cristianinho para a minha Caetana!)
Ora cá está um belo miminho de pai. Quando chegas aos 41 e o teu pai te publica esta bela mensagem na cronologia percebes que de facto a genética é lixada. Sempre fui muito bem criada e feliz, ainda que nunca fôssemos de grandes lamechices lá em casa. Quando miúdas os outros pais punham as filhas nos píncaros. Os meus muitas vezes só apontavam as nossas falhas. Não esqueço quando fiz história no liceu ao tirar o único 19 com o professor de história mais bera do estabelecimento. Corri para a loja do meu Bicho com o teste na mão: «pai, pai tive 19 a história!» «Não fizeste mais que a tua obrigação!», respondeu-me, cortando-me logo as vasas. Até me vieram as lágrimas aos olhos. Mas sei que depois foi para o Clube da Pesca contar que a «sua mais nova» tinha tirado grande nota. Ter estado no jornal A BOLA foi para ele grande vaidade. Quando ia a Beja e encontrava alguém, logo dizia o meu Bicho: «esta está em Lisboa. Está na BOLA!»
Agora que conto as larachas da minha vida nesta forma digital e que por fim me descobre os podres e carecas, achincalha-me desta forma jeitosa publicamente. Atão, pai, sabes que mais? Lembras-te de todo o prejuízo que te dei durante toda a vida com as dezenas de tranquitanas que te parti na loja atafulhada de coisas? Nem soubeste nem de metade....A Tóia (funcionária) encobria-me. Partia candeeeiros, biblots, pratos e canecas, ela embrulhava tudo em papel e ia logo deitar ao lixo. As contas que fizeste à minha falta de jeito estão muito por baixo....Não havia dia que não fizesse estrago ao chocar com a mochila nos teus pertences da Louça dos Compadres. E agora? Já não me podes por de castigo! Toma!