Dia do Pai: mê santo Bicho! Haverá homem melhor à face da terra? É que não minto quando digo que o meu pai é uma casa cheia. É daqueles que conta anedotas- umas bem secas por sinal-, e fica ali a rir-se daquilo tempo e tempo. Chora de rir, limpa lágrimas, repete a anedota para continuar a rir-se, chega a engasgar-se de querer falar e rir ao mesmo tempo. E consegue por-nos a todos a gargalhar até nos doer a barriga. Não da anedota que, às tantas, já ninguém se lembra, mas a rir do riso e da satisfação dele.
É daqueles que começa a contar as histórias do fim. Género: «Bem vocês já não se lembram! Nem eu, ó 'atão' isto foi há tantos anos. Eram vocês pequenas! Nesse dia até levamos a Tinda. ... » e por aí segue, sem dizer ao que está a referir-se, até que, normalmente sou eu que lhe dou o safanão - 'atão mas estás a falar do quê?'
Mê Bicho liga-me quando está a ouvir cantares alentejanos - normalmente só eu partilho da animação dele com o cante-, conta-me pela enésima vez as aventuras da tropa e chora- basicamente é um boneco chorão -, ansioso por mais um jantar com os camaradas da 24.ª Companhia.
Tem uma paciência de santo para os netos, com quem brinca como se fosse miúdo - tem mais agora do que alguma vez teve para as filhas (toma lá a alfinetada). Mas o ciclo da vida é mesmo assim, certo? (Estou tão profunda!)
O Bicho está cada vez mais mouco - duro de ouvido que vai lá vai - mas ainda que já passado dos 70 anos mantém uma ondinha no cabelo que é o seu maior orgulho. Cabelo pouco branco e a bela da ondinha lá no topo da cabeça que parece trabalhada com o mais perfeito brushing mas que toda a vida lhe foi natural. Por norma mê Bicho está sempre bem disposto - querem vê-lo passado? Joguem-lhe a mão à ondinha....
Mas hoje quero-te muito feliz, por seres o melhor pai que alguma vez poderia ter tido. Fui muito abençoada. Eu e a Zabelinha, naturalmente, que não é moça destas exposições.
Noutra publicação logo conto as vezes em que estás a falar com pessoas sem saberes quem elas são, ou quando lhes trocas os nomes, ou quando andas despassarado e até esqueces de aniversários importantes.....Ainda esta manhã: «ciao Nana, beijinhos Tuta, ai espera és Noca...»
Feliz dia do Pai meu Bicho!
O meu Bicho faz 71 anos! Parabéns mê pai! Mê amori! O Bicho é o maior. Está sempre a chorar - de tanto rir! Ele manda os foguetes, apanha as canas...é festa em forma humana! Depois puxa do seu lencinho de pano, que está sempre no bolso direito das calças, e ali fica a rir sozinho, divertido com pouco. No último fim de semana estive com ele em Beja. Estava feliz, tinha trocado de carro (já não era sem tempo que o último tinha 26 anos e parecia um galinheiro: a porta do pendura não fechava e a bagageira só lá ia com um cordel...) A alegria do homem com o carro novo chegava a emocionar. Parecia uma criança no dia de Natal. «Pai que estás fazendo sempre ao pé do carro?» «Estou a guarda-lo. Nem quero que lá pousem moscas!» E ria-se. Como sempre! E ainda hoje continuo a aprender tanto com ele. Como bons alentejanos, além de saber rirmo-nos de nós próprios, gostamos sobremaneira de comentar a vida dos outros. E já nem sei cuja casaca cortavamos quando o belo do Bicho tem a seguinte tirada: «Está um bocadinho apozinhada!» «Está o quê?» «Apozinhada, anafada...gorda! Só não sei se se escreve com 'o' ou 'u'.» E foi risada geral. Seja como for, mê pai, mê amori, que tenhas um dia apozinhado de felicidade e saúde. Nunca me faltes que não aguento!
Tal não é a moenga
Eu até nem queria contar mais peripécias do meu Bicho, mas ele desafiou-me e eu não me fico. É que há tantas....O meu pai tem um termo característico quando se aleija - «Bolas!» Nunca nos foi permitido dizer asneiras - abria-nos logo os olhos cá de um modo...e o Bolas sempre foi a sua forma muito própria de praguejar. Não poucas vezes morde a língua e a boca, por dentro, de lado. E lá sai um Bolas musicalizado com um cerrar de dentes, género tr tr tr tr tr tr. Um belo dia, conta ele que ninguém viu, o Francisco Bicho ia na portas de Mértola - centro de Beja sem trânsito - e, como anda sempre em campanha (ou seja a cumprimentar tudo e todos), distraído, arrancou um lanho da cabeça ao chocar com um sinal de prioridade numa esquina. «Bolas, foi cá uma fuerada!», conta. Mas graça, graça acho mesmo ao imaginar que, nas mesmas Portas de Mértola, o Chico Bicho levou uma «castanha» daquelas motoretas antigas que têm uma caixa atrás. Conta o meu pai que ele ia na sua vidinha, e as portas da caixa traseira da motoreta abriram-se no exato momento em que ele ia a passar, 'atropelando-lhe' um braço. «E o homem nem parou. Nem reparou. Bolas! Tr tr tr tr tr tr»: Bates-me aos pontos pai!
Leram o meu Bichanando de ontem - aquele em que contava que o meu pai Bicho queria abrir a porta do prédio por estar a ouvir uma campainha num vídeo do Facebook? São umas a seguir às outras.... Ainda nós estavamos a rir, à mesa do Natal, de imaginar a situação quando o belo do Bicho voltou a fazer das suas. Mê pai é padrinho da sua primeira sobrinha e quando telefona a Cahita...ai, ai. Pois que a minha prima Carla ligou para o telefone fixo da minha irmã, mas, com a risada e a estroinice, quando o meu pai chegou ao telefone já ela desligara. Ainda assim o meu pai pedia ajuda. «Não consigo atender isto...» «Carrega no verde!» Ouviu-se de novo o telefone. «Estou sim! Estou! Touuuuuu» O Bicho não desistia de ouvir a afilhada. Acontece que a minha prima voltara a ligar mas para o telemóvel e o bom do Bicho continuava agarrado ao telefone fixo, achando que era aquele que continuava a tocar. «Ó pai, é o telemóvel!» E depois para ele parar de rir? Chora, chora, fica com os óculos embaciados e tem de puxar do lencinho de pano do bolso das calças. É um prato!
Ai mê pai - que barrigada de rir no Natal. O Francisco Bicho, já de si e da sua natureza, é um prato! Qualquer história lhe lembra uma anedota, qualquer tema o recorda de uma piada, todos os assuntos o conduzem a uma música. Mas agora, com a idade, está cada vez mais engraçado (leia-se pior). O que nos rimos com a Gertrudes a contar o episódio. Pois que o Bicho tem uma loja de loiças e utilidades em Beja e, há anos, teve a bela ideia de colocar no estabelecimento uma daquelas campainhas de sensores para saber quando alguém entra ou sai. Aquelas campainhas muito irritantes, que fazem grande chinfrineira. Pois que ultimamente o Bicho tem um grande novo amigo - o Facebook-, e decidiu fazer um filme da loja para melhor mostrar os artigos em exposição e venda. Estava ele a olhar o vídeo e a mostra-lo à minha mãe quando começou a descer as escadas do prédio. «Frasquinho, que vais fazer?» «Vou abrir a porta! Estão tocando!» «Estão tocando o quê, homem, não vês que é a campainha da loja que se ouve aí do vídeo?» Já choravamos só de imaginar o Bicho, com o telemóvel na mão, a ver o vídeo, a ouvir a campainha e, mesmo assim, a descer as escadas do prédio que «estavam a bater à porta lá em baixo...» Abençoado seja!