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Bichanando

Onde uma sempre jovem quarentona limpa o cotão que tem no cérebro!

Bichanando

Onde uma sempre jovem quarentona limpa o cotão que tem no cérebro!

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Agora que o cagaço passou, já posso falar disto! Até porque o belo do Bicho foi o primeiro a escarrapachar no Facebook que estava de volta. Pois que na última semana o 'mê' pai foi passar 'férias' ao piso de cardiologia do hospital de Beja. Sentiu-se esquisito e foi ver do grilo, como ele sempre diz quando fala do coração.
Esteve quatro dias internado, a fazer exames às suas arritmias, totalmente enclausurado, sem telemóvel (não sei como sobreviveu sem o Facebook), sem sequer ver televisão, ler revistas ou jornais. Ninguém merece. Estes tempos já são de seca generalizada... Calculo as horas infindáveis sem mais ter que fazer senão olhar pela janela. Meu pobre Bicho. Nós estavamos todas em cuidados. Ligavamos, diziam-nos que estava bem disposto e pouco mais. Mas já passou. O Bicho já está em casa a dizer as suas palermices (não te estou a chamar palerma, ok?) e a rir como sempre. Como só ele ri. 
Numa vídeo chamada voltou a contar as peripécias dos últimos dias.
«Santo Deus, dias tão compridos, sem nada para fazer!»
Perguntei-lhe na brincadeira: «Até tiveste saudades da Gertrudes, não?»
«Bolas!», respondeu num ápice, levando logo valente cotovelada da dita cuja minha mãe, que mais não diz a não ser que está farta «desta pasmaceira».
E lá seguiu o Bicho, relatando as novas e alucinantes experiências do confinamento hospitalar. É que aos 72 anos o impensável aconteceu: «Pela primeira vez na minha vida, dei umas colheradas num iogurte e pus manteiga no pão que aquilo sem sal não se gramava de maneira nenhuma!» 
Já viram a loucura?
'Ganda' Bicho. Fazes outra dessas e vais ver-me invadir o hospital com o Zuckenberg ( foi o iluminado que inventou o Facebook... pai!)

Tal não é a moenga!

Cuidem-se!

 

 

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A Caetana ri-se porque a bicicleta é alta demais para ela que, assim, não consegue pedalar. Se já lhe tivesse dado um amasso como eu, logo via se não chorava de dores. E ardores. Só arranjo sarna para me coçar (não literalmente, hã?)
Pois que isto de estar em casa só a fazer fooding (sou exímia a inventar palavras), ou seja a meter 'food' (comida) para dentro, tem de abrandar. Tanto como as minhas pernas em cima daquele selim que mais parece uma faca aguda do talho. Cristo! Mandei vir a bela da bike, fiquei feliz como criança na véspera de Natal e dei ali ao pedal até ficar dormente.
Contei-vos eu que estava aflita das costas - não há como nova dor para fazer esquecer a antiga. É como os amores, dizem.
Meus amigos, haja Hirudoid (passe a publicidade). E eu que tinha um banco de gel aí por casa a ganhar mofo...Porque só deito fora coisas que me fazem falta e mantenho as porquêras? Tanta falta que agora o banquinho me fazia para forrar aqueles ferros assassinos do bem estar!
Tenho as entranhas muito maltratadas. Sinto-me como aqueles macacos que vemos no National Geographic que têm o traseiro já rosa de tão raspado! 
Mais um achaque (como diz a minha mãe - tradução - mazela) para 'urticar' os meus dias superagitados e emocionantes (estou a brincar, como é lógico. Quem me dera ter dias cheios de frenesim, encontros, abraços, risos, gargalhadas... Raios partam o Covid). 

Tal não é a moenga!

Cuiudem-se!

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Digo eu! Sei lá o que já lixei nesta quarentena, além dos restantes neurónios que ainda resistiam ao meu atrofiamento cerebral. Com a mania de ser atleta e treinar em casa sozinha, dei um jeito às costas que agora até me custa olhar para a esquerda, para a direita - aliás, custa-me olhar é para a frente que o futuro já pareceu mais animador, certo?
O trapézio não foi, que as dores são mais abaixo. Terá sido o levantador da escápula?
Com um nomes destes é bem provável que tenha sido essa a mazela contraída, nem sei bem como. Nem escápula nem nada parecido que em tempos de isolamento social o levantador é só da cama para o sofá e do sofá para a cama (que moenga). Aposto mais num torção do grande dorsal , maior músculo das costas. Pois, é isso mesmo, a dor é em grande. Aliás, comigo tudo tem de ser em grande para eu não saber lidar com os acontecimentos. Mas o Covid é gigante. Tenho-lhe um asco! Que faço eu agora que até a dormir me dói? Sendo Bicho não tenho como hibernar e acordar em maio? Algum sedativo para este meu desígnio?

Tal não é a moenga!

Cuidem-se! 

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Já vou a meio da terceira semana de isolamento e o meu relógio biológico continua a ser o meu maior inimigo.
O mais irritante, mesquinho, incómodo, implicante e insuportável acontecimento da presente quarentena.
Com tantas e intermináveis horas durante o dia porque raios me levanto às oito da matina? Ninguém merece! Ontem foi ainda pior. Ouviram a chuvada? Por Dios! Que dilúvio. Escusado será dizer que acordei com aquele pranto da natureza e não mais consegui pegar no sono.
Ali fico na cama a dar voltas e voltas, a pensar em quando tudo isto vai acabar, a meditar nas cenas mais estranhas e improváveis da vida, a tentar olear o cérebro que por estes dias já nem para mioleira no tacho servia (ou a mioleira cozinha-se em frigideiras? Estão a ver: só já concebo interrogações estúpidas).
Acabei por levantar-me que não suporto as dores de corpo. Sinto-me como se tivesse sido abalaroada, passada e repassada, por uma betoneira tantas as dores musculares de não fazer nenhum (parece contraditório, certo?)
Fui ver chover. Descobri, pois, que consigo ficar em pausa. Julgava ser impossível!
Ali fiquei, estarrecida, à janela, tempo e tempo sem pensar em nada,  apenas olhando a praceta de frente, tipo estátua de cera. Embalsemada! Tanto se queixavam que eu não me calava, que estava ligada à corrente, que parecia uma bichanina... Quero ver quem agora me acorda para a vida depois do vírus se afogar.

Espero que o #$$## da $%ta tenha ido na enxurrada, que tenha ficado com as antenas escorridas, com a cor rosinha descolorada e que aquela barriga de balão se tenha implodido por todos os orifícios que doam. 

Tal não é a moenga!

Cuidem-se!

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1 de abril. Dia das mentiras. Prometem?
Isto também é tudo mentira, não é?
Foi só um pesadelo terrível, bem pior que aqueles que costumam fazer-me acordar aos berros - ou porque sonho que me caem os dentes, ou que ando despida na rua, que piso dejetos de boi, bem pior que as minhas muitas noites agitadas cada vez que, no meu sono,  me enfio por poços abaixo.
É que se fosse verdade, este era o mais terrível dos pesadelos: ficar sem ver os meus pais, minha irmã, cunhado e sobrinhos, sem ver os meus amigos, sem poder pegar no carro e esbarra-lo logo nos pilares da garagem...Sem poder chegar ao ginásio e tentar esconder uma meia de cada cor ou esquecer-me das cuecas no saco e assim ter de regressar algo desconfortável mas arejada... Sem poder escrever na 'minha esplanada' ao sol onde sempre fico com os pés cheios de formigas e apanho valentes cagaços quando se aproximam galinhas (e os cabrões dos patos?)
Seria pesadelo não poder beber café no sitio onde já me chamam pelo nome, entorna-lo em cima do senhor da mesa ao lado e continuar a ler os jornais que já me guardam na banca. Seria muito mau não poder ir buscar a Caetana à escola e ficar a 'namorar' nas grades com os seus amiguinhos que sempre dizem achar-me muito fixe e bonita (ai a inocência das crianças...)
Seria muito mau não poder ir ver as minhas tias ao lar no final das suas vidas e dizer-lhes que cá deixam descendente no que respeita a dizer pantominices (a minha tia Tinda é o hino ao humor).
Seria muito mau. Não pode ser verdade. Hoje é dia das mentiras.
Prometem?

Tal não é a moenga...

Cuidem-se!