Hoje é dia 1 de agosto! Desde que me lembro de ser gente que a data me causa ansiedade. É que a minha Isabelinha faz anos. A minha irmã mais velha. A minha mentora. A pessoa que mais acredita em mim. Que sempre acredita em mim quando muitos duvidam. Sobretudo eu própria. Toda a vida a segui, toda a vida a tive por exemplo, toda a vida a tive por socorro. É uma força da natureza. Um mulherão. Recordo-me muitas vezes da nossa infância, eu ainda moça pequena, ela já adolescente - jeitosa como o raio. Tinha o rabinho empinado. As calças de ganga assentavam-lhe na perfeição e eu- cheia de pneus (ela até me chamava boneco Michelin)- embasbacava-me com ela e pensava: «é tão bem feitinha a minha mana.» A vida revelou-me que tinha razão. A minha irmã era mesmo bem feitinha, sobretudo na forma de ser, de atitude, de caráter inabalável. Hoje faz anos a Isabelinha! E sou grata por ter a benção de ser a sua irmã mais nova! E ainda hoje, com qualquer aflição, é dela que recebo a calma, a fibra e o incentivo que nunca me deixa ter pena de mim própria - sim que tenho grande queda para armar-me em calimero! Parabéns minha musa.
E por aqui me fico.
Dia em tudo especial: o 1 de agosto - dia em que ponho ponto final neste meu Bichanando. Durante mais de um ano partilhei convosco histórias diárias. Dei-me a conhecer a mim e aos meus, e nunca inventei qualquer situação. Sou mesmo assim - íman para cenas inusitadas, detentora de magnetismo avariado como a porra! Mas também receio que já vos canse com os meus disparates e conversa fiada, certo? Não digo que, de quando em vez, não venha aqui descarregar umas alarvidades, mas vou dar-vos férias prolongadas. Obrigada a todos quantos me leram, sobretudo obrigada a todos quantos sorriram ao ler e imaginar as minhas caganças e fanfarronadas! Bem hajam! Felicidade são pequenos momentos. Vivam-nos com intensidade! Vou abraçar a minha Isabelinha!
Ciao!
Tal não é a moenga...
Ando cansada que nem uma preguiça. Arrasto-me. Não me desloco - vergo-me! Mas forço-me a ir ao ginásio, nem que seja já ao fim do dia. E, assim que a música começa a bombar, passa-me tudo. Chega-me a energia, a genica e aguento-me ali que nem um macho. Outro dia fui fazer aula de RPM ao Hut da Amadora com o Alexandre Junior. Um instrutor assim novo, da minha geração, que dá umas aulas poderosas. É um espetáculo, dentro do espetáculo. Grita, assobia, é uma animação só. Para mais aquela aula foi ao som do bom e velho rock - tipo o clássico CD do Plateau ( discoteca de Lisboa) às quartas-feiras à noite. Mas o que mais me confortou foram as imagens que ele pôs nas telas da sala. Eram, assim, tipo mandalas animadas - mandalas aqueles desenhos minuciosos cheios de curvas e curnocópias. A minha irmã até já me deu um livro de mandalas para colorir como forma de aliviar o stress e controlar a ansiedade (não funcionou)! Mas ali, a correr em cima da bike, ao som de Nirvana e a olhar para aquelas cores que se engoliam a elas próprias, senti-me completamente anestesiada. Houve alturas que entrei em transe. Sem ouvir nada, sem comandar as pernas ou os pensamentos. Eu precisava era mandalas! Aquela horinha passou que foi um espetáculo. Depois - depois, olhem era manda-las- às mandalas - para o .......catano! E a dor de cabeça de ali estar a fitar aquilo? Tal não é a moenga....
Meus amigos- isto de andar no futebol faz canelites! Parece óbvio, né? Mas não é. Como é que, sem jogar, sem correr atrás da bola, sem sequer aquecer, arranjei canelites? Ando no ginásio para baixo e para cima, fico moída ao ponto de só conseguir mexer as pálpebras mas pouco depois estou fina. Agora padeço destas dores no pegamento do pé com a perna que nem me consigo levantar bem! É que dias de jogo são a loucura total. As 'piscinas' que eu fiz para trás e para a frente. Cristo! Acreditem que isto dói - é como se tivessemos pernas de pau e as sentissemos a quebrar às lascas! Pior - o que ajuda a aliviar isto? Pomadas não ajudam, forçar esforço fisico - impensável. Pareço uma tansa sem me conseguir equilibrar no meu equílibrio natural. E desculpem lá nova foto dos presuntos! Tal não é a moenga...
Tanto que eu gosto de cicatrizes, tanta mocada que dou em tanto lado e não consigo ficar com marca alguma... Só pode ser castigo pelo meu alvoreamento. Agora estou na fase de martirizar a orelha esquerda. Outro dia, estava no parque de estacionamento do Fórum de Linda a Velha - o tal cujos postes conhecem bem as quinas do meu carro-, ia pagar o ticket, seguia olhando para o telemóvel de fuça no chão (como sempre), lá reparei no filho da mãe do espelho colocado ao nível do meu 1.69m... Que fuerada! Minha bela orelha. Agora- há coisa de minutos minha gente-, calculei mal a distância para entrar no bólide, espetei com a mesma orelha, a esquerda, na quina do vidro da porta. Tenho a certeza que vai ser toda a semana nisto. Tal não é a moenga...
O que vale é que eu, onde quer que chego, arranjo logo companhia. Nas minhas novas funções e respetivo poiso tenho agora nova 'sombra'- já vos contei de um filha da mãe de um gato preto que me persegue de tal forma que até se enleia nas minhas pernas, não já? Mas não é dele que quero falar-vos agora. Pois que anda lá um rapazito que vive lá dentro do recinto com os avós. Ali passa os dias inteiros, para baixo e para cima - ora a pé, ora de bicicleta. Trato-o com amizade e deferência. Perguntei-lhe o nome para trata-lo pela sua graça. Miúdo de instituição. Mas o moçoilo descobriu-me no Facebook. Manda mensagens a desejar bom almoço, bom jantar, acena, envia emojis - vê-se que é solitário e que mima quem lhe mostra os dentes. E eu e a minha mania e orgulho nos meus implantes.... Agora não posso dizer ao moço que não quero tanta atenção, certo? Parece que estou a ouvir a minha mãe - «Ó Noca, coitadinho»! Estou sentada a trabalhar e só lhe vejo a sombra, a passar de um lado para o outro. E espreita. E sorri. Não há como não ficar enternecida. Só não gosto quando me trata, vezes sem conta, por senhora! Bem, pelo sim, pelo não, e como as pessoas puras falam verdade, fui comprar ácido hialurónico para preencher as rugas. Tal não é a moenga...
Eu, também, ponho-me a jeito! A verdade é essa! Ora, sai mais uma barracada à pala do ginásio. Acreditam que há três dias que estava para comprar shampoo e esqueci-me sempre? Ontem não pude evitar - ao reparar que tinha voltado a não por o belo lavadoiro de cabelo no trolley, fiz-me de parva e tive de meter conversa com a senhora da cabina de duche ao lado. Situação estranha, confesso: eu nua, a senhora, nua. Simpática, pos-me shampoo na mão mas depois deixou cair a toalha, agachamo-nos as duas para a apanhar em simultâneo - parecia aquele anúncio da Impulse mas versão porno inocente. Lá fui tomar o meu banho quando a senhora, simpática- reforço-, abriu-me a porta do duche para perguntar se também precisava de gel de banho. Que confragedor. Sério. Querem saber que mais? Atendi uns telefonemas, despachei-me com calma e quando saí do ginásio, estava a boa da senhora- que foi tão minha amiga- à porta. Acreditam que não a reconheci...vestida? Estou preocupada.... E o que fiz? Saí dali direta para o Pingo Doce, passo a publicidade, buscar uns frasquinhos de stock.
Estou toda desasada! Empanada! Empandeirada! Descadeirada é o termo certo. Ganha um pessoa o estatuto de diretora e pimba - alanca que é para não seres parva. Estou a queixar-me mas é na brincadeira, naturalmente. Toda a gente sabe que, quem anda no dirigismo desportivo, tem de ser um 'faz tudo'. Isso inclui carregar cenas, móveis, porras ! Com a minha sala em obras (ora são as paredes, ora é o chão) tenho de andar a mover cadeiras, secretárias e afins para umas catacumbas. Terminada a melhoria estrutural, toca de ir buscar outra vez o mobiliário. Sozinha, uma destas manhãs, lá meti a secretária às costas....Ando eu no ginásio a levantar barras, a esfalfar-me que nem uma maluca e nunca me aconteceu nada. Vou pegar naquela tanga e toma lá uma distorção na lombar que até me dificulta a respiração (estou pro em fazer rimas sem querer!) Antes fazer uma aula de crossfit - caramba também não! (digo com casa asneirada - Cristo)! Vou ali comprar aqueles géis de alívio muscular.... Tal não é a moenga...
Agora é que estou bem arranjada! Já vos contei que a minha Caetana é dona do coração do miúdo mais mal educado da escola, o marau que está sempre de castigo e que todos os dias vai parar ao gabinete da diretora? 'Atão' mas o que o moço está embeiçado pela minha Piqui? Estava eu descansadinha em casa, às onze da noite, já mais para lá do que para cá, quando começo a receber mensagens de voz no Facebook. Nem estava a ver quem era o Zé Pedro! Mensagem 1 - «Olá - amanhã quero falar contigo!» Mensagem 2 - «Isto é para a tua filha!» Mensagem 3 - «A minha namoradinha do meu coração!» Mensagem 4 - «Ligo a esta hora e tu atendes, ok?» Certíssimo amigo ! Assim é que é - atitude, determinação! Ir atrás do que se quer! Está bonito está! E ela tem oito anos. Pior - ela não lhe acha graça alguma, nem quer falar com ele. E como agora até tenho pouco que fazer ainda ando preocupada em confortar o pequeno coraçãozinho de um menino que é tão mau, tão mau que acaba por ser tão doce! Vou dizer-lhe que ela está a dormir quando a criança ligar! É a isto que se chamam mentiras piedosas? Tal não é a moenga...
Ora eu, Elsa Marina, de sandalocha dias inteiros num estádio em obras.... Além de ficar com os entremeios dos dedos todos sujos de terra, o piso torna-se perigosérrimo para os meus trambelhos - buracos em todo o lado, bocados de chão com cimento fresco, baias e fitas no ar nas quais engancho o pescoço... Já tive dias mais fáceis! Agora, dramáticos são os tubos que brotam do chão sem aviso, sem placa, sem dístico, sem neón a dizer CAUTION... Escusado será dizer que mandei uma pantufada num desses tubos. De tal maneira que fui à lua e vim mais depressa que o Armstrong! Quer dizer - à lua, não, porra- ao inferno que a dor fininha de uma castanhada com o dedo mínimo naqueles canos de betão dói para ca.....tano! Acho que vou ter de fazer um seguro não vá eu sofrer um acidente daqueles de deixar-me toda engessada. Uma vez, quando miúda, já tive um seguro desses...Mas acho que vou confiar no meu anjão da guarda. É que não há guito, pilim, money para estas frescuras. Tenho mais é que ter juízo e pensar que posso magoar-me à séria, certo? Quem acredita que vou conseguir? (Eu também sei que vou sofrer aqui muito...) Tal não é a moenga...
Ora, já perceberam que sou um bocadinho esquisitóide com a alimentação e comida saudável, certo? Confesso que sou só um bocadinho.... Ando sempre de lancheira atrás com as minhas frutas, iogurtes, cenouras cruas, pepinos para comer à dentada e... ovos cozidos! Como muitos. Só tenho de começar a descasca-los em casa. Muitas vezes, de um lado para o outro, é no carro que saco do belo do ovinho e como-o enquanto conduzo. Logicamente, por mais que guarde a casca, há sempre umas partículas que caem para baixo dos estofos. Digamos que muitas casquinhas decoram os tapetes e tablier do meu bólide. Fui mandar limpar o carro. O senhor, ucraniano, ficou a olhar para mim. Primeiro o carro cheirava a ovos cozidos- e não a outras coisas que se pudessem pensar já que os ovos cozidos, como se sabe, também não cheiram assim lá muito bem. E se o homem chegou a pensar que era odor de outro género - género alívio de intestino - estavam lá as milhares de casquinhas, que lhe deram' trabalhêra' imensa - a prova-lo. O homem não se conteve. «Gosta muito de ovos...» E riu-se, gozando comigo. Toda a gente goza comigo. Tal não é a moenga...