7 de abril. Os meus pais - Chico Bicho e Tuta Galamas-, fazem, imagine-se, 45 anos de casados! Cristo! Por Dios! É obra! Naturalmente, são, para mim e para a Zabelinha, um motivo de orgulho, mas, verdade se diga, tal cifra já não se usa!
Ela, acelerada como ela só, fiel a rotinas, à vidinha que domina, ao cantinho dela que nunca pode perder de vista. Ele um bem dispostão, cheio de vontade de passear, de falar com pessoas, de rir de cantar...
Lá se encontraram, acharam piadinha um ao outro e tiveram duas lindas rebentos.
Uma inteligentíssima, discreta, elegante, cheia de sensibilidade e bom senso, outra, pois a outra: enérgica, bem disposta, trapalhona, nervosa, destrambelhada (já me disseram que me rebaixo muito a mim própria nas minhas prosas, que sou má para mim mesma - atão mas querem que diga que sou um hino à quietude e harmonia?)
E já lá vão 45 anos. Se lhes perguntarmos o balanço, ou coisas giras do namoro, a Gertrudes dirá... «Ó sei lá eu disso agora. Lembro-me cá do que aconteceu no tempo da outra senhora...»
O Bicho responderá...«Ó sei lá eu disso agora....» A diferença é que o meu pai não sabe porque, efetivamente, não se lembra sequer do que jantou ontem. A minha Tuta é porque quando Deus nosso Senhor distribuiu a lamechice ela tinha desmaiado.
Juntos são um prato. «Frasquinho - lá estás tu outra vez com a porcaria da televisão na mesa verde (snooker)», grita a Gertrudes.
«Epá, esta mulheriiiiiiii», desabafa por vezes o Bicho quando já não sabe o que lhe dizer!
Ainda bem que naquela Évora do antigamente o galã do Chico se embeiçou pela Gertrudes (devia estar ainda calada - ah, ah, ah - também foi assim que enganei o Zé Luís!)
Parabéns mês pais!
Que seja sempre a mesma moenga...