Já vou a meio da terceira semana de isolamento e o meu relógio biológico continua a ser o meu maior inimigo.
O mais irritante, mesquinho, incómodo, implicante e insuportável acontecimento da presente quarentena.
Com tantas e intermináveis horas durante o dia porque raios me levanto às oito da matina? Ninguém merece! Ontem foi ainda pior. Ouviram a chuvada? Por Dios! Que dilúvio. Escusado será dizer que acordei com aquele pranto da natureza e não mais consegui pegar no sono.
Ali fico na cama a dar voltas e voltas, a pensar em quando tudo isto vai acabar, a meditar nas cenas mais estranhas e improváveis da vida, a tentar olear o cérebro que por estes dias já nem para mioleira no tacho servia (ou a mioleira cozinha-se em frigideiras? Estão a ver: só já concebo interrogações estúpidas).
Acabei por levantar-me que não suporto as dores de corpo. Sinto-me como se tivesse sido abalaroada, passada e repassada, por uma betoneira tantas as dores musculares de não fazer nenhum (parece contraditório, certo?)
Fui ver chover. Descobri, pois, que consigo ficar em pausa. Julgava ser impossível!
Ali fiquei, estarrecida, à janela, tempo e tempo sem pensar em nada, apenas olhando a praceta de frente, tipo estátua de cera. Embalsemada! Tanto se queixavam que eu não me calava, que estava ligada à corrente, que parecia uma bichanina... Quero ver quem agora me acorda para a vida depois do vírus se afogar.
Espero que o #$$## da $%ta tenha ido na enxurrada, que tenha ficado com as antenas escorridas, com a cor rosinha descolorada e que aquela barriga de balão se tenha implodido por todos os orifícios que doam.
Tal não é a moenga!
Cuidem-se!