O Filipe faria hoje 41 anos. Era quatro dias mais velho que eu. A vida, por vezes, é mesmo madrasta.
O Filipe foi meu amigo de infância. Os meus pais e os dele, nossos irmãos e outros casais amigos costumavamos, todos os agostos, ir passar a primeira quinzena, claro, a Monte Gordo, para onde Beja sempre 'baixa' no pino do verão (assim que chegavamos à Boavista, que fica a 2 km de Beja, já saíamos dos carros a dizer: cheira a 'mariiii').
Recordo-me - bem, recordar não é o termo que sabem que tenho de pensar duas vezes para dizer o meu nome completo -, mas lembram-me as fotografias que éramos inseparáveis. Foi com ele que tirei aquelas célebres fotos das crianças na praia, a brincar, todos nús; era ele que me enterrava na areia ( já mais velhinhos) deixando-me apenas a cabecinha de fora.
Devia ter sido mais sua amiga. Crescemos e desligamo-nos.
Nos seus últimos dias tive de ir vê-lo. Andava a consumir-me e lá fui, a medo, a pensar que já nem se lembraria de mim. O sorriso que deu ao ver-me foi das melhores prendas que recebi na vida.
Agora começa a fazer-me comichão fazer anos. Lembra-me, já, que ando a aproveitar pouco. Mas penso no Filipe e não há como não gostar de soprar velas (não me venham é cá com bolos que nisso já não me enganam).
Por isso, meus amigos, dêem barracas, abram o coração, durmam descansados e levantem-se com sorriso rasgado todas as manhãs.
Parabéns Filipe!