Ora, tinha de ser! Não fosse eu ter saudades! Já vos falei do Guerra? Pois que Fernando Guerra, José Fernando de seu nome, foi meu editor e chefe no jornal A BOLA durante largos anos. Quem o conhece sabe a peça de que falo. Sempre tivemos relação especial. De amor/ódio muitas vezes! Quando estavamos para embirrrar um com o outro...ui! Eu não me calava e ele até gostava de ser desafiado! A verdade é que me ensinou muito (além do curso intensivo de gestão de nervos que me proporcionou). Muitas vezes fui para casa a chorar, depois de sair do jornal. Muitas vezes chegava à cama e continuava a ouvi-lo falar comigo! Mas, também, quando lhe dava para ser meu amigo...Era alentejanita para cá, alentajanita para lá. Adorava chamar-me Madre Teresa de Calcutá por sempre defender quem o receava. Enfim, foram 18 intensos anos. Saí do jornal A BOLA, por decisão pessoal, por a minha filha precisar mais de mim que o jornal, e propuseram-me agora escrever um livro. Um livro sobre um individuo cheio de histórias (ainda não posso dizer muito mais). E o que tem isso a ver com o Guerra? Nada - se o protagonista do meu livro não fosse igualzinho a ele. Esculpido e escarrado. O cabelo branco com risco ao meio, a estatura, o olhar, a voz rouca e arrastada, o rastilho curto, as reações espaventadas... E este ainda fuma cigarro atrás de cigarro como o Guerra nos tempos em entrei para a Travessa da Queimada. Ainda me lembro da primeira reportagem que me pediu. Depois de lê-la, chamou-me ao corredor - quando alguém era chamado ao corredor já sabíamos que precisaria de consolo. E perguntou-me: «Ouve lá, quem é que escreveu isto por ti?» Sempre simpático. Levava com cada arranque... E este agora é o mesmo: «Lá está você, menina! Você e essas manias de jornalista...» Só Guerras na minha vida! Ó karma! Tal não é a moenga...
Hoje é dia mundial da voz! Que poderoso instrumento! Bem - eu cá sempre tentei brincar com a minha. Fiz rádio, tenho um timbre não muito agudo - acho! É porque, cada vez que penso neste assunto, vem-me logo à ideia a imitação que o meu amigo Rui Baioneta fazia da minha pessoa quando trabalhavamos juntos no jornal A BOLA - um misto de galinha com sotaque ligeiramente arrastado da etnia cigana. Eu ria-me, claro. Mas a verdade é que o 'Neta' náo era o único . Cada vez que alguém me imita leva o meu falar para a esfera galinácea - será que é assim que soou? É que à minha alentejanice toda a gente acha graça - sobretudo eu! O melhor elogio que podem fazer-me é dizerem-me que ainda conservo bem aceso o meu sotaque (haja algo ainda bem aceso a esta altura do campeonato!) Mas acreditem que, se quiser (e nunca quero), consigo falar sem musicalidade alentejana. Mas fico ridícula a parecer uma das imitações do Herman (aquelas boas de há uns 20 anos). É isso: o Baioneta a imitar-me parecia a Maximiniana do Herman- lembram-se? Impossível que alguém concorde com isso....Minha bela voz! Por Dios!
Tal não é a moenga....
As Marinas - não era bom nome para um tasco? Imaginem eu e a minha amiga Célia Marina à frente de um pitoresco estabelecimento comercial? Enfim, era o descalabro! Há muito tempo que não estava com a minha Celufa, amiga que me ficou dos tempos de A BOLA (uma entre muitos, com a graça de Deus e com a graça de eu própria ter graça - ah - ah - ah). Levei-a ao Belenenses-Portimonense mas confesso que não vi nadinha. Pomo-nos as duas na galhofa e o tempo voa!
A Célia é daquelas pessoas cujo coração não lhe cabe no peito, cuja gargalhada contagia, cujo masgnetismo é irresistível. Junta-se o magnestimo dela com o meu carisma destrambelhado e a chaladice acontece. Além de estarmos a conversar tão animadamente que a criança à nossa frente só nos olhava com ar matador - já que não a deixavamos prestar atenção ao jogo com a risada -, à saída, lá ia a boa da Célia a tentar publicar uma foto nossa - gentilmente tirada pelo nosso Miguel Nunes (A BOLA). Ia a boa da moça tão embrenhada na tarefa, colada ao telemóvel sem olhar para a frente, quando começo a vê-la desviar, a andar em zigue zague em direção a uma senhora já assustada com a hipótese da Célia lhe dar uma cabeçada! Não a devia ter chamado. Quando se apercebeu que não era eu que estava à sua frente e que ia dar barraca (apenas mais uma) largou-se a rir, ecoando o Estádio Nacional. Será possível ter a tua gargalhada como tom de toque? Tal não é a moenga...
Valha-me Deus que iniciei o caminho sem retorno! Tantas vezes que ralho com a minha Caetana - come como deve ser, devagar que ninguém te vai tirar o prato, fecha a boca que pareces uma máquina de lavar, não metas tanta comida ao mesmo tempo, dá para não te babares a comer a sopa... Acreditam que estou com uma certa dificuldade em comer o belo e nutritivo liquido de que sou tão fã? Não sei se tenho a boca dormente, se já vou com a colher à boca com esta ideia fixa de babar-me, a verdade é que quando dou por mim espirro espinafres por todo o lado... Lembro-me logo quando, ainda no jornal A BOLA, ia jantar com a malta à salinha do quarto andar. Lógico que todos gozavam comigo devido às minhas saladas, sopas e pratos verdes. Naquela noite tinha tomates cherry. Sentei-me à frente do Ricardo Quaresma, chefe de redação que tinha uma bela camisinha branca. Assim que cravei os caninos nos ditos tomates - foi de esguicho! Sujei o desgraçado que tantas me aturou! E depois para eu parar de rir?
Tal não é a moenga!
(já agora, e sem querer abusar da vossa santa paciência, dá para gostar desta página - https://www.facebook.com/Bichanando/?ref=bookmarks - e deixar uma criticazita jeitosa que vá de encontro à vossa consciência e ao meu agrado? Bom poder contar com vocês!!!!)
Prefiro levar uma sova de cinto a meter-me nestes dias de festa nas grandes superfícies. É que me comunica com o sistema nervoso. A malta parece que se transforma com a fuçanguice. Credo! Por Dios! Mas o que tem de ser tem muita força (leia-se a minha amiga Susana Batista) e em vésperas de Natal lá fui até à Primark (passo a PUB que não ganho nada com isso, infelizmente). Deve ter sido a segunda ou terceira vez que lá fui mas assim que entrei recordei-me logo da primeira vez que entrei naquela gigantesca loja cheia de formigas de um lado para o outro (leiam-se pessoas). Pois que estava eu na Primark, há já uns bons anos, mergulhada numa pilha de roupa, quando o meu telemóvel tocou. Por norma não atendo números privados, para mais num sítio que parecia casa de loucos. Mas acabei por atender. «Estou, sim, quem fala? Quem? Vítor Serpa [diretor de A BOLA]... Deve ser, deve....Vá quem fala?», gritava eu, tapando uma orelha a ver se filtrava o ruído. E não é que era mesmo o diretor do jornal? Nunca me ligara e naquele dia quis dar-me os parabéns por uma entrevista que tinha feito ao Fittipaldi. Nem imagino, com tanta barulheira e brutidade, o que terá imaginado que eu estava a fazer....Nunca mais me ligou, curiosamente. Mas não deve ter sido por isso...