Não viveria com o susto! Tinha sido cá um cagaço! Abençoada alminha! Nem sei de quem falo, apenas sei tratar-se de uma miúda simpática que não esteve para me espetar um piripaque. Num destes dias dirigi-me para o meu carro no Estádio Nacional, estando o meu bólide estacionado naquela parte da mata, debaixo das árvores. Lá vinha eu, toda lampeira, carregada que nem uma mula (como ando sempre), trazendo pendurada a minha malinha (tamanho XXL), mais a mochila do computador, outro casaco na mão e chapéu de chuva (sombrinha como se diz em bom alentejano - agora cá escrever o correto..) Já com os botins todos enlameados- porque as poças e os charcos vêm todos ter comigo-, percebi que não conseguia puxar das chaves do carro. Ainda tentei mas tudo me caía dos ombros abaixo. Então, não estive com meias medidas: despejei tudo em cima do capot do carro que estava parado ao lado: sombrinha, mochila, computador, casaco, abri a mala, saquei carteiras, cadernos, canetas, frascos e frasquinhos, batons, comprimidos e todas as minhoquices que trago comigo. Lá encontrei as benditas chaves, lá arrumei tudo à pressa e entrei, a custo, para dentro do carro. Assim que acendo as luzes, olho para o lado, e não é que a rapariga estava sentada ao volante assistindo à forma como fazia do capot dela meu tapete? Larguei-me a rir, pedi desculpa com as mãos e acelerei dali para fora não fosse a bendita criatura dizer-me alguma coisa. Atão, o que é que querem - não vi a rapariga dentro do carro com aquele breu... Se me tivesse buzinado ou acendido as luzes no meio do processo...tinha apanhado o cagaço da minha vida. Agradecida miúda!
Nunca vi! Ó poço de inesgotável energia. O senhor tem mais de 80 anos e consegue resumir os largos kms que já coleciona nas pernas no prazo máximo de dois minutos. É figura emblemárica no Estádio Nacional. Lá tem estacionada e sua carrinha/casa, ali se treina, ali faz vida, ali planeia as próximas provas mas então - não há quem o consiga perceber. Eu não consigo. Tem tanta reinvindicação a fazer, mistura tudo numa assentada, fala tão depressa - achava eu que com sotaque madeirense mas uma vez confrontei-o e quase me ia engolindo - que ficamos estafados só de lhe dizer bom dia. De mim quer uma entrevista! Já lhe expliquei que saí do jornal, mas ele não quer saber. Manda recados para a Edite Dias, quer ir à televisão, pressiona os treinadores que se lhe deparam no Jamor, fala de exigências ao governo com quem quer que se cruze. Sei que é um homem só, que faz do desporto e do atletismo o seu maior prazer, percebo que é um grande exemplo para muitos miúdos da atual e sedentária sociedade. Mas o Batista é um curso intensivo de ruído comunicacional. Fala tanto, de tanta coisa ao mesmo tempo, com tanta garra e intensidade, com tanto querer e crença, com tanta sofreguidão, com tanta ânsia... Eu nem abro a boca. E olhem que há poucos que me calem!
Começo a pensar que o problema é das minhas patorras de elefante! As vezes que já fiquei descalça este verão... Até vos contei que no aniversário do Paulo Battista partiram-se as duas sandálias ao mesmo tempo ficando toda a noite perante os seus convidados com os pés negros de limpar chão (e nem fazia pandam com o vestido que era verde!)
Recordo-me também que, em tempos idos, quando trabalhava em A BOLA, torci os dois pés ao mesmo tempo tentando fugir dos pombos, com os sapatos também a darem de si (convenhamos, saltos naquela calçada do Bairro Alto ...aliás, pouco tempo antes de vir-me embora também mandei um malho numa esquina, perante rua cheia de restaurantes e esplanadas que ainda estou incrédula como não fui parar ao You Tube).
Hoje de manhã. Estádio Nacional. Seguia eu toda armada em grande senhora- trau! Desiquilibrei-me da cunha da sandália direita abaixo, lá vim a arrastar o pé pela areia e relva até ao carro, com os putos todos das escolas (até lá havia um evento do dia da Polícia) a gozarem comigo. Agora que já arrefeci tenho umas ligeiras dores no tornozelo.
Estou farta de sandálias! Acho que neste inverno volto às botas ortopédicas!