Tuta Galamas! Gertrudes Margarida! A minha mãe! Lógico que hoje vou estar dedicada à minha Caetana que há dias me enche com cartas, mimos e bêjos. Sei que nasci porque tinha de trazer ao mundo aquela furacão em forma de criança. Falando em furacões - com tanta tempestade que tem aparecido nos últimos tempos não sei como ainda não batizaram nenhuma de Gertrudes. Só porque não conhecem a minha Tuta! Esta mulheri- é a única que me deixa sem palavras, tal o feitio da criatura. Se sabe que eu, ou algum dos dela, tem alguma dor, nem que seja de uma unha encravada, nem dorme de aflição. Mas quando está connosco, roubar-lhe um carinho é tarefa hercúlea. Às vezes deito-me no seu colo e invento que tenho comichão só para ver se ela me afaga a cabeça. E até os seus cascudos sabem tão bem! Nunca tivemos hábito lá em casa de dizer amo-te, adoro-te, tal como agora faço questão de dizer à minha Caetana todos os dias ao acordar. Só por uma vez vi a minha mãe super fragilizada e sem defesas: na noite em que me levantei de madrugada para ir para a Suécia fazer o Erasmus. Minha Gertrudes estava sentada na cama, chorava desesperada, pedindo-me que não fosse. Deu-me abraco superapertado e encheu-me de beijos. Acho que não volto a receber demonstração tão pura do seu amor. Por isso, Gertrudes,- é verdade-, vou viver para Nuku’alofa, capital do Reino do Tonga que fica do outro lado do mundo!!!!! Vai um beijinho???
Feliz dia da mãe minha Tuta! (Amo-te!)
Tal não é a moenga....
Sabem aquela idade da parvónia em que nos revoltamos contra os nossos pais e juramos que nunca havemos de ser como eles? Perdoai-nos Senhor que não sabíamos o que fazíamos! E os anos passam e assalta-nos a revelação de que, afinal, acabamos por ser iguaizinhos. Então eu e a Gertrudes....Dou por mim a dizer tudo à minha Caetana tal e qual a Gertrudes me gritava em moça pequena. Até me larguei a rir sozinha, depois de ouvir-me reproduzir, ipsis verbis a minha Tuta: «Filhos da mãe de tanto boneco. Qualquer dia vai tudo para o lixo! Nem um cá fica para contar a história. Para que é tanta bonecagem desta se não brincas com nada?» Tal e qual! O que me leva para outro pensamento - será que daqui a um tempinho vou andar acelerada como ela, parecendo estar montada numa mota? Será que vou ter aqueles frenicoques com as horas- à uma é para almoçar, às duas é café, às cinco é banho, às sete é jantar e não pode haver ali qualquer desviozinho da escala? Será que me vai dar para fazer máquinas e máquinas de roupa todos os domingos? Será que vou ser ainda mais abrutalhadinha? FOGE Zé Luís que ainda vais a tempo... Tal não é a moenga...
Vivendo e aprendendo. O povo é que sabe e diz bem! Quem haveria dizer que uma pequena conversa sobre agulhas para máquina de costura me ia ser tão complicada de manter... Pois que a minha Gertrudes é costureira e, de quando em vez, precisa de agulhas para a máquina de costura que não consegue encontrar em, Beja. Lá fui eu a caminho de uma bela lojinha de artigos destes na Amadora - a Amadora tem tudo. Descobri este belo estabelecimento bem perto de casa quando antes tinha de deixar o carro quase no IC 16 para chegar à rua principal de Sacavém. Entrei e estava uma mulher, trombuda que dava dó, que levou no mínimo uns 10 minutos a vir ter comigo quando a loja estava vazia. Expliquei o que queria. «Quer de 50, 60, 70, 80, 90 ou 100?» «Isso são agulhas por pacote?», perguntei. «Não», respondeu-me como se eu fosse muito burra. «É a referência!» Ya - é que isso faz parte da cultura geral de qualquer ser humano, querem ver? Tentei ligar à minha mãe mas não me atendeu o telefone. «Olhe, ela pediu-me agulhas para vários tipos de tecidos: para coser gangas, lãs, cetins...» «E? Quer levar de quais?» «Todas, ela precisa de várias....» «De 50, 60, 80, 90 ou 100?» «Oiça - não sei. Você é que me poderia ajudar dizendo-me quais são as agulhas para gangas, lãs e cetins...Esqueça, dê-me um pacote de cada! Servem em máquinas Singer, certo?» «Qual a referência da máquina?» Porra mais as referências...«Sei lá. É uma máquina meio antiga mas daquelas normais, domésticas!» «Estas agulhas dão para todo o tipo de máquinas», elucidou-me. 'Atão', se dão para todas, para que porra queria saber a referência? Irra! Tal não é a moenga....
Parabéns Gertrudes! A minha mamã faz hoje anos! E está mesmo de parabéns. Não só pelo aniversário mas por ter tido duas filhas excecionais, sobretudo a mais nova. Todos dizemos que a nossa mãe é a melhor. Que como a nossa não há. Mas, acreditem, que não há mesmo como a Gertrudes: Guidinha como era conhecida na escola já que haviam muitas Gertrudes naquela Évora (hilariante!) Pois a durona da Gertrudes, meiga como uma chapa de zinco, quente como as cataratas do Niágara nos dias de hoje, tem um calcanhar de Aquiles que os netos já descobriram (até porque eu estou sempre a lembra-los). A mulher pela-se ao ver repteis, cobras, rãs e coisas que tais...Sempre ouvi a história que a minha irmã dormiu com uma osga no berço quando bebé... Mas não precisam ser bichinhos de verdade. Qualquer boneco de borracha a imitar coisas viscosas a fazem berrar de pânico. E olhem que é mesmo cómica a gritar: «tirem-me isso daqui». E grita qual tenora cheia de fôlego no início da ópera. É um prato! Hoje não vou passar o dia com ela mas quando for a Beja faço questão de irmos comer perninhas de rã em molho de tomate (que pitéu)! Adoro ouvi-la gritar! É isto compreensível? Ou também sou uma valente réptil ao assumir isto? É tão bom vê-la rir-se, depois, dela própria com a triste figura! Que nos abençoes com os teus berrinhos, fininhos, agudos, oxítonos, que se nos entram nos tímpanos qual choque elétrico durante muitos, bons e longos anos. Amo-te Gertrudes!