Se há coisa de que tenho pensa é de ter a audição pouco afinada. Sou mesmo dura de ouvido. Mouca que nem uma porta. Náo percebo nadinha quando sussurram, não sei ler lábios, não sou boa parceira de cochichos porque percebo tudo na escada. O que é irritante. E há vezes em que a limitação não dá mesmo jeito algum. Fui chamada a uma conversa profissional. Tenho aí uma perspetiva de um part time... Lá me dirigi onde me mandaram e pediram-me para aguardar. A pessoa que me receberia estava a falar com outro rapazito dentro de uma sala que apenas tinha um vidro a separar-nos. Se tivesse bom ouvido, por certo conseguiria perceber o que diziam. Estava curiosa, ora pois. O moço devia ir ao mesmo que eu. Tentei, esforcei-me para caraças para me focar apenas nos sons que vinham daquele aquário...Percebia bem os risos mas o que diziam, nada. Patavina! Até deixei cair a mala para ter de agachar-me e aproximar-me, não fosse ter sorte. Nada. Podia ser o terceiro segredo de Fátima que eu, ali ao lado, paredes meias - ou melhor, vidro meias- não pescava népia. Pelo sim, pelo não já me muni de cotonetes. Mas não vou lá. Também, verdade seja dita - mania que as pessoas têm de falar baixinho, de serem discretas e cautelosas. Educadas! Porra!
Tal não é a moenga....
Sempre fui muito dura de ouvido! Mouca, mouca....mais mouca que uma chapa de zinco (como dizem em Moura)! Cristo! As minhas amigas, todas elas se queixam do mesmo- ninguém consegue bichanar comigo (ironia né?) Não vale a pena dizerem-me coisas em surdina que eu não percebo nada. Muito menos consigo ler lábios. Têm de falar alto e de forma percetível. «Chiça, Elsa, só dás barraca....», oiço constantemente. «Olha ali aquela gaja que....» «Aquela gaja o quê?», grito eu, denunciando toda a operação. Então dizerem-me o célebre clássico: «não olhes agora mas....», comigo, nem adianta que a primeira coisa que faço é logo fitar os meus grandes olhos castanhos em quem não deveria perceber que estava a ser cortada na casaca. Enfim. O ruído comunicacional (ironia, né?) é um perigo na minha pessoa. Estavamos nós na quadrilhice na Zumba (coisa que até nem aprecio -estar na quadrilhice ih ih, ih, ih - ) e contavam-me uma história de um casal que se separou e que o referido ex já tinha outra relação com uma mulher a quem, inclusive, tinha dado um...ringue! «Um ringue?» «Sim já está com outra e até já lhe deu um, apesar de a conhecer há pouco tempo.» «Um ringue?» Aquilo não me fazia sentido mas há gente para tudo, certo? Imaginei que tivessem grande casa e que o ringue fizesse parte da decoração. Aliás, outro dia fui a um restaurante mexicano (imagine-se) no LX Factory que tinha, verdadeiramente, um ringue no meio. Pensei - querem ver que os ringues estão na moda? Podia ser, ou não? Conversa para cá, futrico para lá e eu insistia....«mas um ringue!» «...R&R%%-SE , Elsa - um RIM!» Ah - deu-lhe um rim! Já me pareceu mais plausível. Isto para perceberem o quanto o meu quotidiano vive de conversas estapafúrdias à boleia de ser dura de ouvido. E acreditem que já fiz exames auditivos - dentro de uma caixinha tipo telefónica, com auscultadores na mona a fazerem-me perguntas sobre se ouvia os barulhinhos. E disseram-me, inclusive, que estava tudo bem!!! A saúde deste País está na rua da amargura.... Pelo sim, pelo não ...vou comprar uns cotonetes!