Sempre gostei de bonecas! A minha Caetana gosta mas nunca se entreteve muito com elas. Só agora, com 8 anos, é que a vejo andar de volta das misses, a pentear-lhes (vulgo estragar-lhes) os cabelos. Cá eu brinquei com bonecas, confesso, até aos 18 anos! Já namorava e ainda passava tardes inteiras a inventar conversas com elas. O rapaz, Nuno de seu nome, tocava-me à porta e eu pensava: «raios já aí está! Vem sempre mais cedo que o combinado, porra!» E jogava as bonecas para baixo do sofá para que não percebesse o que estava a fazer. Foi mesmo! Até aos 18 anos! Depois comecei a brincar com bonecos...Ah, ah, ah, mentira, que sempre fui uma songa monga do pior! Mas gosto de ver a Caetana a desgadelhar aqueles pedaços de plástico que me custaram os olhos da cara, já todas sarrafiadas, a desafiar a imaginação e a viver fantasias que gostava que lhe acontecessem a ela. «Estás com um vestido muito comprido! Vou vestir-te só um calções curtos e um top...», dizia ela a uma princesa da Disney. Vou mas é eu brincar de novo com as bonecas e dar-lhe a ela uns livrinhos de ciência!
Voltemos ao baú para contar-vos mais uma bela e marcante aparição minha. Sempre fui moça recatada e tive poucos namorados. Tirando o Tói não mais namorei alentejanos (como é possível?). Então que, já mulherzinha, encantei um moço de Cascais que estudava em Beja. Num belo verão, estava eu acampada em Monte Gordo (claro), o moço quis que fosse à sua casa de férias conhecer os pais dele. Ó porra! Tive de dizer que sim, lógico.
Saí da praia mais cedo, tentei esticar um vestido azul e branco às riscas ao máximo e até lavei os ténis para parecer no mínimo apresentável e não calhandrona como muitas vezes critica a minha mãe.
Acontece que antes de sair do parque de campismo deu-me a fome. Agarrei-me a uma lata de atum e, claro, que, sem querer, derramei o óleo do atum pelas pernas abaixo. Não tinha tempo de trocar os ténis, acho que nem tinha outro calçado, e tentei disfarçar as nódoas ao máximo.
Chegada à casa dos 'sogros', que me receberam simpaticamente, estávamos nós naquela converseta de «ah, é alentejana, de Beja, ele fala muito de si... bla bla bla», diz a senhora: «Tenho de ir despejar o lixo. Cheira tanto a atum!»