Agora que o cagaço passou, já posso falar disto! Até porque o belo do Bicho foi o primeiro a escarrapachar no Facebook que estava de volta. Pois que na última semana o 'mê' pai foi passar 'férias' ao piso de cardiologia do hospital de Beja. Sentiu-se esquisito e foi ver do grilo, como ele sempre diz quando fala do coração. Esteve quatro dias internado, a fazer exames às suas arritmias, totalmente enclausurado, sem telemóvel (não sei como sobreviveu sem o Facebook), sem sequer ver televisão, ler revistas ou jornais. Ninguém merece. Estes tempos já são de seca generalizada... Calculo as horas infindáveis sem mais ter que fazer senão olhar pela janela. Meu pobre Bicho. Nós estavamos todas em cuidados. Ligavamos, diziam-nos que estava bem disposto e pouco mais. Mas já passou. O Bicho já está em casa a dizer as suas palermices (não te estou a chamar palerma, ok?) e a rir como sempre. Como só ele ri. Numa vídeo chamada voltou a contar as peripécias dos últimos dias. «Santo Deus, dias tão compridos, sem nada para fazer!» Perguntei-lhe na brincadeira: «Até tiveste saudades da Gertrudes, não?» «Bolas!», respondeu num ápice, levando logo valente cotovelada da dita cuja minha mãe, que mais não diz a não ser que está farta «desta pasmaceira». E lá seguiu o Bicho, relatando as novas e alucinantes experiências do confinamento hospitalar. É que aos 72 anos o impensável aconteceu: «Pela primeira vez na minha vida, dei umas colheradas num iogurte e pus manteiga no pão que aquilo sem sal não se gramava de maneira nenhuma!» Já viram a loucura? 'Ganda' Bicho. Fazes outra dessas e vais ver-me invadir o hospital com o Zuckenberg ( foi o iluminado que inventou o Facebook... pai!)
Tal não é a moenga!
Cuidem-se!
Contado ninguém acredita! Desculpa lá, ó pai, mas não posso esconder do mundo mais este feito! Pois que a minha Gertrudes e o meu pai Bicho vieram até Lisboa no último sábado para aplaudirem a sua netinha no VI sarau gímnico dos meus Moinhos da Funcheira. Chegaram, todos, contentes, cheios de frutas e feijão verde, mas, como eu até inclusive mudei de casa, lá foi o bom do Zé Luís busca-los à saída da ponte para que não se perdessem. Tudo espetáculo. O bom do Bicho ainda apanhou uma estafa a carregar colchões para o pavilhão mas o dia passou-se em beleza. O sarau correu bem e , do centro do pavilhão - sim que eu fui a apresentadora do evento -, via-os de telemóvel em punho a registarem todos os saltinhos da minha Piqui. Já noite alta decidiram fazer-se à estrada e voltar para Beja - alguém acreditava que a Gertrudes dormisse fora de casa e perdesse o castelo de vista? Jamais! Como é evidente... Era uma e meia da manhã lembrei-me de ligar para saber se estavam quase em casa. «Epá - sabes lá - estamos em Vila Franca de Xira. Ai Noca [eu], só estradas e caminhos sem ver ninguém. Nem viva alma. Tantas curvas! O teu pai já estava aflito que não tinha gasolina. Agora estamos na bomba. Lá para a hora do pequeno almoço estamos em casa», praguejava a minha mãe, que deve ter picado tanto os miolos do meu pai... É que o Zé Luís também os foi deixar à saída para o IC17 - era só entrar no túnel do Grilo e ir sempre em frente pela A2. Mas o meu Bichinho, claro, que vai sempre na faixa do meio «porque assim consegue sempre mudar de direção se lhe apetecer», não viu saída de IC nenhuma... Foi sempre direto A8 dentro. Acho eu que foi isso, que ainda nem percebi por onde andaram. Eram três da manhã quando ligaram a dizer que, finalmente, estavam em casa. E a minha mãe... «Acho que vou tomar o pequeno-almoço...» Tal não é a moenga...
O meu pai é incomparável. É tão giro, tão giro! No último fim de semana fui a casa, leia-se Beja, e sabe ainda melhor o cafezinho após a almoçarada de domingo na companhia do Bicho e da Gertrudes. Estava um calorzinho daqueles de fazer relembrar o Alentejo antigo mas, simultaneamente, soprava um ventinho que sabia tão bem...Ora o belo do Bicho, assim que se encosta, pesam-lhe as pálpebras. O homem consegue dormir onde quer que seja. E adormece numa fração de segundos. Desgraçado acorda logo com a Gertrudes aos berros: «Frasquinho, parece impossível! Onde quer que chega está sempre pendendo». E é verdade - não sei se ainda é na fase de adormecimento ou se já está na twilight zone, o meu Bicho parece um radar - consegue dar a volta à cabeça quando dorme sentado. Eu, nem nos alongamentos do ginásio consigo rodar assim o pescoço... «Epá, está-se aqui tã bem», justificava-se. E acorda sempre bem disposto. Contou logo o mê Bicho: «Sabes a do homezinho que chega aí a um lugarejo no Alentejo e pergunta a um velhote- amigo, já nasceu aqui algum grande homem? Não - aqui só nascem crianças!» Ha, ha, ha, ha! O que eu me tenho rido com esta parvoêra! Tal não é a moenga...
Todos nós passamos na vida por momentos de profunda tristeza. Acontece quando nos despedimos de alguém que sempre fez parte da nossa vida. É o ciclo da existência, mas custa sempre! Momentos em que dá sempre jeito ter por perto um ...Bicho! Apesar de ser o maior chorão de todos, quando lhe dá a força, mesmo de forma inconsciente, é impossível não rir perto dele. Estavamos juntos, em pesar, quando nos lembramos de mais uma saída do mê pai. E ainda nos rimos ao lembrar o dia em que veio a Lisboa e conversavamos defronte do prédio da minha tia Dulce que vive nas ruas acima do Jardim Zoologico. Dizia, então, o Bicho nessa altura: «Vá lá, apanhamos bom tempo, há muito que aqui não vinha, bla, bla, bla e até apanhamos aqui uma procissão!» «Uma procissão pai?» «Sim, atão não a vês?» «Não - onde está a procissão?» «Atão não vês ali ao fundo os altares?» «Pai: aquilo é o teleférico do Zoo!» Ah, ah, ah, ah Sério - só aquele homem! E ainda me rio só de lembrar-me da cara dele quando se apercebeu da calinada que tinha dito. Tal não é a moenga...
O que eu me ri com isto! Mê santo pai! Só ele para me fazer rir desalmadamente. Que boas foram estas gargalhadas, para mais numa fase em que ando mais chochinha (que isto a malta tem de rir e sorrir mas de vez em quando até essas fortes curvas do sorriso se vão abaixo- se fossem só essas curvas que descendem....enfim). Pois que, à noite, recebo um vídeo do meu pai pelo Facebook pedindo que o partilhasse. Pouco depois, o novo vídeo com a brilhante missiva que se lê na imagem: «Noca, isto fala do quê que não percebo inglês!»
Ah, ah, ah - mas partilhou! Diz ele que foi só a mim e à minha irmã....sim, sim! Olhem se fosse alguma coisa desaconselhável! Retire-se forte ilação com isto do meu Bicho: atente-se bem no poder da Internet, da era digital, do facto de todos sermos 'millenials' e de todos querermos fazer o que os outros fazem. O meu Bicho até já tem Instagram!!! Procurem-no que ele adora que se metam com ele! 'Atão' se for para lhe falarem bem da filha mais nova, delira (filha mais nova, ou seja, eu, Noca, como sempre me trataram, chegando a desligar o telefone de casa quando perguntavam pela Elsa)! Agora, não sei se converse com o Bicho acerca dos perigos da Internet - não vá ele por-se a partilhar tudo quanto veja e meter-se por caminhos desadequados, ou se lhe dou um cursinho intensivo de inglês!