Ouvi uma vez que as mãos denunciam a verdadeira idade da mulher - ora, toca de por creme gorduroso e de colorir as unhacas para as manapulas aparentarem jovialidade. Também alinhei nessa vaidade e agora estou dela refém. 'Atão' mas quando as unhas crescem? Há malta que usa com cada gânfia que não sei como conseguem fazer coisas banais do dia a dia como meter as mãos no bolsos, tirar pestanas dos olhos e outras coisas do género. Coisas como apanhar moedas do chão! Ó dificuldade... Ando sempre com a carteira cheia daquelas moedinhas pretas - diz o Zé Luís que dá sorte tê-las espalhadas pela casa (por essa ordem de ideias mais valia deixar por lá perdidas umas notinhas de 500, não?) Eu, agarro nas moedinhas e paro na bomba de gasolina para comprar os jornais. Mas, numa destas manhãs, eu e as minhas manitas de plata não evitamos que as 'pretinhas' caíssem ao chão. E depois apanha-las com as unhas meio grandes? Não consigo! Não consegui! Ali fiquei na fila, de cócoras, a tentar reaver as miudezas até que me irritei e as pontapeei para baixo do balcão. Figuras! Mas olha, se a fezada do Zé Luís estiver certa....Amanhã vou à bomba ver se o homem já fugiu para as Maldivas!
Tal não é a moenga...
Há que assumir - somos todos manipulados como carneirinhos! Se há coisa de que não gosto é de ir às compras nas grandes superfícies. Irra que fica tudo tão longe para catano! Uma pessoa esquece-se de umas maçãs e tem de meter a quinta para atravessar aquilo tudo. A mim enerva-me. Poupo-me a muitas idas. Sou mais adepta do comércio tradicional, da bela da mercearia, dos lugarejos onde conhecem os nossos gostos e nos tratam pelo nome (ainda há disso?). Avante! Tive de ir ao hipermercardo. E por mais que leve lista ou dinheiro contado - bah! Trazemos sempre mais do que precisamos. Bem mais. Daí sermos manipulados como carneirinhos - tudo está ali estrategicamente colocado para saltar para dentro dos nossos carrinhos. Encantei-me por uma garrafa amarela - adoro amarelo! Ai que linda para levar para o ginásio, pensei. Dei uma catrefada de guito por aquilo - mais valia ter dado a quem precisasse comer -, mas cheguei a casa feliz da vida. Fiz o meu chazinho de hibisco para estrear a amarelinha ...'Atão' mas de que serve ser tão linda se não tem tampa à prova de Elsa Marina? Foi assim que a emborquei à boca - chazinho todo por mim abaixo, quentinho, bancadas das cozinhas sujas e ainda espetei um cagaço na miúda : «Mamã, isso é sangue?» «Não filha - é chá de hibisco [que é vermelho]»! Tal não é a moenga...
Hoje é dia mundial da voz! Que poderoso instrumento! Bem - eu cá sempre tentei brincar com a minha. Fiz rádio, tenho um timbre não muito agudo - acho! É porque, cada vez que penso neste assunto, vem-me logo à ideia a imitação que o meu amigo Rui Baioneta fazia da minha pessoa quando trabalhavamos juntos no jornal A BOLA - um misto de galinha com sotaque ligeiramente arrastado da etnia cigana. Eu ria-me, claro. Mas a verdade é que o 'Neta' náo era o único . Cada vez que alguém me imita leva o meu falar para a esfera galinácea - será que é assim que soou? É que à minha alentejanice toda a gente acha graça - sobretudo eu! O melhor elogio que podem fazer-me é dizerem-me que ainda conservo bem aceso o meu sotaque (haja algo ainda bem aceso a esta altura do campeonato!) Mas acreditem que, se quiser (e nunca quero), consigo falar sem musicalidade alentejana. Mas fico ridícula a parecer uma das imitações do Herman (aquelas boas de há uns 20 anos). É isso: o Baioneta a imitar-me parecia a Maximiniana do Herman- lembram-se? Impossível que alguém concorde com isso....Minha bela voz! Por Dios!