Detesto! Abomino ir às compras ao supermercado! Pago a quem o poder fazer por mim! Irrita-me sobremaneira. Transformo-me. Viro Bicho, literalmente. É das necessidades para as quais tenho de preparar-me psicologicamente. Então se tiver de ir a uma grande superfície...Quando estou no corredor dos utensílios de casa e tenho de ir buscar iogurtes à outra ponta apodera-se de mim uma zanga....
Em supermercados mais maneirinhos, a coisa escapa. Ainda assim, já fiz levantamento das horas mais calmas lá da zona para não fazer sofrer o meu sistema nervoso. Mas é em vão. Dou por mim a filar logo a caixa mais vazia, a espreitar para ver quem é o funcionário mais despachado, a passar discretamente à frente das velhotas que têm muito tempo para ali estar (penso eu)! Faço cara de enxonfrada se ficam a olhar para a minha habitual marca de produtos láteos e não permito dividi-los com ninguém porque tenho lá de comprar logo como se fosse para um regimento.
Outro dia, na caixa do Pingo Doce dos Moinhos da Funcheira, até tive vergonha dos meus pensamentos. Tanto fiz por me despachar que fiquei logo atrás de uma senhora que deveria estar a demorar só para me testar: «Ai desculpe mas enganei-me na marca do detergente. Vou só ali trocar.»
«Olhe, esqueci-me do papel higiénico. Está já ali...»
«Desculpe, tenho de procurar o número de contribuinte.»
«Também não sei o multibanco de cor...Deixo ver se encontro o papel onde tenho escrito!»
Iam-se-me esticando os caracóis. Obrigada, Senhor, por me ensinares o valor da humildade, pensava eu, já com os meus iogurtes no saco, enquanto me dirigia para o carro.
Uai...e a chave? Querem ver....
Voltei para cima. Nada de chaves do carro.
Eis senão quando volta a bendita senhora: «Levei por engano. Estava em cima do tapete da caixa...»
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