O que vale é que tenho testemunhas, se não vocês pensavam que eu mentia com quantos dentes tenho na boca, ou melhor - visto estar a escrever - com quantos dedos tenho nas mãos! Pela enésima oitava vez perdi o telemóvel. Pela enésima oitava vez vieram trazer-mo. Surreal! Até já me envergonho. Sábado andei cá nas minhas voltas, compras, azáfama, criança- o normal né?- e pus-me a passar a ferro - sim, calha a todos, há sacrificios a que uma pessoa tem de sujeitar-se. Estava eu a criar calos da força que faço ao pegar no estropício do ferro de engomar quando me apercebo que o telemóvel estava muito calado. Dei uma voltinha pela casa- nada. Pensei: deve estar num bolso da mala. E dei seguimento à minha saga doméstica (como se tivesse jeitinho!). Nisto tocam à porta. A boa da Caetana parece que ganha molas ao ouvir a campainha. «Mãe, é um senhor careca!», gritava, discretíssima como sua mãe, ao olhar para o intercomunicador. «Sim? Olhe, desculpe vizinha, a sua filha tem algum telemóvel?» Fez-se-me luz. «Ai é o meu!» Desci. «Olhe, fui deitar o lixo fora e vi o telefone no chão, ao pé do seu carro. Mexi-lhe e vi logo a fotografia da sua filha. Percebi logo que era vosso!» Nem sei quantas vezes agradeci ao vizinho do rés-do-chão. Ainda dizem que não se deve ter fotos dos filhos nos telemóveis. Vejam como me safou. Mas sei que qualquer dia vou mesmo perder o telefone. E depois aturem-me. Acho que até abracei o vizinho depois de lhe ter dado uma espécie de Hi five! Figuras! Vou passar a festejar o dia da vizinhança. Há dias para tudo mesmo - alguém sabe quando é? Tal não é a moenga...
Garanto-vos que sou totalmente sincera quando vos digo que adorava ser mais aprumada, prendada, organizada e todas as ...adas que traduzam ter trambelhos no que faço. Tenho a mania de andar sempre carregada como uma mula - jornais debaixo do braço, mala enorme e sempre cheia de tralha, comida para não ceder a alimentos menos nutritivos - agora ando sempre com pepino e como-o à dentada -, casaco pendurado à cintura sempre a cair, trolley no ginásio pela outra mão...Resultado, nunca tenho mãos para encontrar as chaves do carro dentro do malão que me desiquilibra a espinha. Vinha da minha terapia diária (ginásio, já sabem) e quis abrir o bólide - que entretanto, à frente, está amarelo (voltei a raspa-lo nos pilares do estacionamento). Bem - tive de mandar tudo para o chão e procurar o comando do carro. Pus o telemóvel e um pacote com comida do Celeiro em cima do carro para ver se me conseguia desenvencilhar de tudo aquilo. Vou fechar a bagageira e estava perra. E eu, estúpida, em vez de olhar e perceber o que estava a emperrar a porta de trás - não, continuei a fazer força e a acalcar a porta. Acreditam que consegui fechar a bagageira com o telemóvel entalado nas dobradiças. Até gelei. Puxei-o, lógico, não saía. Voltei a abrir a porta ... e tira-lo, depois, de lá? Nem vos conto as asneiradas cabeludas que consegui dizer em dois minutos ininterruptamente. De certeza - foi recorde! Meu belo telemóvel, abençoado carro que não o estragou, raios partam este feitio de tanga que só me estorva e enerva. Não fosse isso até que era bem ...normalinha! Tal não é a moenga...
Sério- o meu anjinho da guarda é imbatível! Ontem, dia da mãe, voltei a apanhar uma sova nas palmas das mãos de tanto aplaudir a minha Piqui e demais ginastas do meu clube - O CDCRMF - Centro Desportivo Cultural e Recreativo dos Moinhos da Funcheira do qual sou vice presidente (estão carecas de saber, né?) Mais um torneio de acrobática e lá fui a caminho de Murches (Cascais). 'Murche' ando eu, catano, e tenho de aguentar-me. Tão estouvada andava, sem perceber porquê, que estacionei o carro, entrei no pavilhão carregada com a minha mochila mais a lancheira da moça, mais um saco com o fato de treino do clube que a minha vaidosa não quis vesti-lo porque tinha calças e queria ir de pernas ao léu..bla, bla, bla...«Ó Elsa, não te falta nada?» Perguntou-me o meu amigo João. Irra? Mais? Que me falta agora, raios? Tão só o telemóvel. Não me perguntem onde o deixei - se em cima do carro, se ficou no chão do parque de estacionamento... Mas a sorte que tenho de haver sempre quem me apare os golpes! Tenho mesmo de começar a beber uns chazinhos de camomila ou de passiflora para ver se assento a cornadura. Porque é que Deus Nosso Senhor não me fez ajuizada e serena em vez de fixe?
Tal não é a moenga...
Como é que diz a música? Há dias que nem de manhã ou de tarde se pode sair à noite, certo? Tenho tantos desses dias... Hoje, definitivamente, é um deles! Irra que estou desejosa de meter-me nos lençóis e, mesmo assim, devo perder as meias, com as quais já nem durmo. Mas estou a desfocar-me do assunto! Comecei o dia a andar pelo passeio Marítimo de Oeiras com o meu amigo Miguel Nunes (não consigo correr com vento que faz-me dor de cabeça). Fomos por ali fora, pela areia da praia, até Carcavelos. Decidimos ir ao café. «Miguel, perdi o telefone!» «Caraças, não paramos em lado nenhum. Como foi isso?» Pois, amigos, a mim acontecem-me coisas estranhas. Aflita - tenho lá a minha vida e aquela moenga foi caríssima - , voltamos por onde tínhamos vindo. Metros à frente, lá estava, no chão, intacto, o meu belo aparelho que batizei de Bonifácio. Ufa!
Fui ao ginásio, depois fui almoçar e eis senão quando, quando vou para pagar o parque de estacionamento... «Onde pus o cartão?»! Fosga-se! Voltei atrás e as meninas do Abacate (as tais que também me encontraram o espelho do carro quando me espatifei contra um pilar) tinham-no encontrado e guardado. Catano, tenho um grande anjinho da guarda!
Fui para casa. Arrumei tudo e voltei a sair porque há coisa que nunca perco são as horas de ir buscar a minha Caetana. 'Atão' não é que quando chego à rua tinha o carro no meio da estrada? Juro! Convém não esquecer de puxar o travão de mão, né? Mas porque raio sou assim, porra dum cabrão?